quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Galinha no Parcão


O meu primeiro dia em Porto Alegre nestas últimas férias de Natal caiu num domingo. Um domingo lindo de sol. Do terraço do apartamento do meu pai dá pra dar um belo bom dia para o sol e encher os olhos com o mar de árvores verdinhas que se estende em frente cobrindo o Parcão.

O Rafa diz que parece uma floresta tropical.

Lá de cima dá para ouvir o alvoroço dos passarinhos e o trote das pessoas caminhando ou correndo. E aquele solzão lindo! Aí eu começo a me coçar de vontade de descer para ir correr. 

O Parcão é um parque bem querido pelos seus frequentadores. Além da turma que vai religiosamente caminhar ou correr, o pessoal adora levar os cachorros para passear, sentar na grama, tomar mate, levar as crianças na pracinha ou jogar comida para os patos e tartarugas no laguinho.







Às vezes, principalmente nos fins-de-semana e à tardinha, o Parcão super lota, enche de gente, fica parecendo shopping center em sábado chuvoso. Aflição e claustrofobia.  É que o Parcão não é um parque muito grande, não. Para ter uma idéia, o percurso mais longo é contornando o parque e mal dá 1 km, mesmo indo obsessivamente pela beiradinha. Correr no Parcão não é muito diferente de "brincar de hamster" ou "correr atrás do próprio rabo". Mas é seguro, tem sempre gente e a polícia está sempre presente patrulhando.

Mas voltando ao meu primeiro dia de férias em Porto Alegre: aquele domingo lindo de sol e o parque lá embaixo me convidando para ir correr. Fui, é claro. Branquela e sem pegar sol há mais de um ano, me emplastei de protetor solar, catei meu óculos esportivo e desci bem feliz. 

Ainda não estava lotado de gente, mas começando a encher. Resolvi correr pelo sentido horário. Tinha acabado de engatar um trotezinho quando vejo pelo canto do olho uma viatura da polícia estacionando no meio fio da calçada. Beleza. Segurança.

Como boa obsessiva, vou contornando o parque pela beiradinha para fazer esse 1 km render. No caminho, quase piso em cima  dos restos de um lixo colorido, um monte de fitinhas e balões estourados espalhados num pequeno círculo. Gente mal educada, sujando um parque tão cuidadinho!

Uns 7 minutos mais tarde, passo mais uma vez pelos brigadianos (são 3), que estão em pé na calçada com a porta da viatura aberta pois a temperatura já estava meio alta.  Eu firme, já suando e penando, as tartarugas nas pedras tomando sol, os patos no lago fazendo o que patos fazem no lago, o parque enchendo de gente , os cachorros correndo felizes pelos gramados, eu estou prestes a passar pelos brigadianos pela terceira vez e.... uma galinha! Sim, uma galinha grande, gorda, marrom, ciscando o chão e bem mansinha. Não estava com medo das pessoas e parecia bem tranquila. Ninguém tentava pegá-la ou assustá-la, parecia super bem integrada ao ambiente. Como se pertencesse ao parque. Como se fosse a coisa mais natural do mundo uma galinha no Parcão.

Como o meu querido cérebro com seu senso de percepção do mundo das fadas e dragões leu a cena?

Num primeiro momento achei estranho, não lembrava de ver galinha em parque antigamente, vai ver que esqueci. Logo em seguida achei que seria engraçado quando eu comentasse com os gringos que no Brasil você encontra "galinha de rua" (alguns, eu juro, esperam macacos, cobras tigres e elefantes pela cidade...). Mas a galinha estava tão tranquila e confiante ciscando aos pés dos brigadianos sorridentes que me veio a luz - um dos brigadianos era o dono da galinha e estava levando ela para passear! Por isso que a porta da viatura estava aberta! Para a galinha entrar e sair quando bem entendesse!

Finalizei meus 10 km e voltei para casa. Tomei um belo banho de chuveiro gelado e já tinha esquecido da galinha quando voltou a ser assunto.

-Mãe! Tinha uma galinha no Parcão!

-Sim, filho, eu vi. Acho que era dos brigadianos.

-O quê? Não, acho que não. Me disseram que ela deve ter sobrevivido alguma macumba durante a noite.

E foi então que lembrei do lixinho colorido no meu trajeto. Coitada da galinha. Fiquei torcendo para que ela fizesse do Parcão um novo lar, ela parecia tão feliz!

Mas é claro que no dia seguinte já não tinha mais nem sinal da penosa.