Quando eu era criança, cronologicamente falando, me achava a maior gente grande. Lembro de ter uns 5 ou 6 anos, estava no Pré e por alguma razão atravessei o pátio da escola que parecia imeeeenso para ir buscar a minha irmãzinha no Jardim de Infância. Cheguei lá e vi aquela criançada para tudo o que é lado, a professora me convidou para entrar na sala e esperar um pouquinho até a turma se organizar. E tudo o que passava pela minha cabeça era por que raios a professora não me pedia para ajudá-la a dar conta das crianças???
Eu entrava num avião sozinha e ía até São Paulo passar um mês na casa da vovó. E levava e cuidava da minha irmãzinha.
Eu era responsável pelos meus estudos e entregava meus temas em dia. Estudava para as minhas provas e não passava pela minha cabeça criar problemas na escola e não resolvê-los por mim.
Eu não entendia porque eu podia pegar ônibus sozinha (carregando a minha irmãzinha, é claro) para ir para a escola ou para a aulinha de inglês, e tinha que ouvir não quando pedia para ir no carnaval de salão da praia que todas as minhas amiguinhas nem tão mais velhas assim frequentavam.
Eu acreditava que deveria resolver os meus assuntos sozinha. Sejam quais fossem. Eu era a primeira a oferecer um ombro e tentar e querer resolver os problemas dos outros. Mas não admitia que alguém se metesse nos meus (ou não sabia como pedir ajuda).
Mas seja lá qual fosse a situação e o desepero, eu acreditava piamente que tudo daria certo, que sempre há uma luz no fim do túnel, mesmo quando está tudo tão escuro como se a luz tivesse se extinguido.
Eu era uma menininha mandona, meio sabe tudo e com uma capacidade monstruosa de odiar com uma raiva mortal qualquer imbecil que me tratasse como uma criança comum. Eu sabia exatamente o que eu queria (ou pensava que sabia). Eu não via a hora de virar gente grande de verdade e ser a exclusiva dona do meu próprio nariz.
O tempo foi passando. Hoje eu sou, cronologicamente falando, um adulto. E continuo esperando virar gente grande. Só que já não tenho mais certeza de nada. Apenas sei que há sempre uma luz no fim do túnel. Mesmo quando está tudo tão escuro que parece que a luz se foi.