segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O meu pai é o melhor

Como todas as crianças, eu e minha irmã éramos loucas por chocolate. Barras de chocolate ao leite, iogurte de chocolate, bolo de chocolate, brigadeiro, sorvete de chocolate, qualquer coisa de chocolate. Lembro de inúmeras tardes vasculharmos os bolsos dos casacos dos nossos pais atrás de moedinhas para irmos até o armazém da esquina comprar uma lata de leite condensado, ingrediente básico para o brigadeiro de colher. Na Páscoa, o coelhinho trazia uma cesta para cada uma, com tantos ovos de chocolate que pareciam que iriam durar até a Páscoa do próximo ano. Que nada! Mal e mal uma semana! Tudo isso além de que bebíamos, cada uma,  mais de um litro de leite por dia, sempre com Nescau.

Pois o pai, que sempre gostou de um experimento nos levar para passear nos fins de semana e preocupado com tanto chocolate no nosso sistema, resolveu unir o último ao agradável e nos levar para passear em Gramado. Quem é do sul sabe que Gramado é a terra do chocolate na região. É uma cidadezinha charmosíssima nos nossos "alpes gaúchos" onde acontece o Festival de Cinema, onde pode-se encontrar maravilhosos "cafés coloniais" que nada mais são do que uma orgia calórica absurda de carboidratos do tipo açúcar simples  e, é claro, os chocolates artesanais. Montanhas de chocolate. Tudo o que é tipo de chocolate. Por tudo que é canto da cidade. O paraíso dos chocólatras.

Já tínhamos ido à Gramado várias vezes mas desta vez o passeio veio com uma baita surpresa: podíamos comer o quanto de chocolate quiséssemos. Isso mesmo, foi uma espécie de desafio, um "duvido que consigam comer tanto chocolate!" Na verdade, o que o pai tinha em mente era que acabássemos enjoando de chocolate e, pronto, estaríamos salvas.

Foi um passeio genial. As bobinhas passaram o dia todinho se empanturrando com chocolate. Quanto ao resultado do experimento, um desastre. Acho que não existe chocolate demais no nosso caso. E naquele dia, com tanto chocolate sem restrição, nunca teve um pai assim tão legal!

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Uma das minhas memórias mais antigas é estar na sala do apartamento onde morávamos com uma revista para crianças recheada de dinossauros de cartolina para destacar e montar. Eu devia ter uns 3 ou 4 anos, tinha sido um presente do meu pai e ele me explicava que os dinossauros habitaram a Terra há milhões de anos atrás e etc. Eu estava encantada pelos dinossauros e lembro de escutar fascinada sobre o que ele me contava. Mais tarde aprendi porque chove, como se forma um arco íris, aprendi sobre as estrelas, os planetas, os buracos negros, a teoria da relatividade, como o mundo é infinitamente interessante.

Hoje procuro passar essas experiências para o meu filho. Não sou assim tão boa como o meu pai mas meu filho já captou a mensagem mais importante nessa interação: quem ensinou todas essas coisas maravilhosas foi o vovô. Quando eu me perco ele diz "o vovô sabe, pergunta para ele."  

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De vez em quando o pai trazia para casa uma pilha de comprovantes de pacientes que ele havia atendido naquele dia. Como ele tinha muito para fazer, ele pedia para que eu e a minha irmã o ajudássemos colocando os comprovantes em ordem alfabética. Nós levávamos horas realizando a tarefa e ele agradecia e elogiava o nosso trabalho. Eu me sentia super orgulhosa e competente, eu adorava ajudar em algo importante, de gente grande.

Só depois de adulta fui me dar conta que ele podia colocar aquilo em ordem alfabética em 2 minutos e que na verdade quem estava nos ajudando era ele.

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Tivemos muita sorte em morar numa rua tranquila, cheia de crianças da nossa idade. Crescemos brincando na rua, explorando terreno baldio, pulando muro. Nessas de fazer passeios nos fins-de semana, quantas vezes o pai não encheu o carro com as nossas amiguinhas e nos levou ao zoológico, ao circo, ao parque de diversões?

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Eu já tinha terminado o segundo grau, provavelmente estava fazendo cursinho para o vestibular. Não lembro como aconteceu, mas lembro direitinho de estar num jaleco branco, numa salinha do ambulatório da Santa Casa no meio de vários alunos de medicina, assistindo à uma aula do meu pai. Naquele dia eu descobri o talentoso professor de medicina que ele é. Senti um orgulho imenso e passei a entender a admiração e devoção de ex-residentes.

E a minha só aumentou.

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Teria um milhão de historinhas para contar mas só estaria enrolando para chegar ao ponto principal: hoje é o aniversário do meu pai. E tem todo um Oceano Atlântico que me impede de abraça-lo e festejar esse dia ao lado dele. Sou abençoada com um pai de verdade, ali, presente. Eu sei que posso contar com ele.

Meu pai é a lá moda antiga: é um exemplo de ser humano a ser seguido, de homem correto e com princípios éticos e morais firmemente estabelecidos. Não que seja rígido, pois possui muito bom senso. É um homem admirável.

Eu sou suspeita para falar porque sou filha dele, eu sei. Mas é exatamente porque sou filha que sei muito bem do que estou falando, afinal, como todos os filhos, já tive várias discussões com meu pai, nem sempre concordei com ele e é assim com todos nós. Também sei muito bem que todos nós temos nossas falhas e pontos fracos e ninguém é excessão.

Só que tem uma coisa que meu pai faz melhor do que ninguém: ele assume seus papéis (profissional, social, familiar, etc) com responsabilidade; ele dá o melhor de si,  faz o melhor que pode e suas decisões são tomadas com responsabilidade e com a melhor das intenções.  E também já "peguei" ele várias vezes "pedindo" auxílio para que os comprovantes sejam colocados em ordem alfabética para gente que nem desconfia. Se mais pessoas fossem assim, o mundo seria um lugar muito melhor.

Eu queria muito estar lá com ele hoje. Queria muito saber expressar todo o carinho que tenho por ele, saber agradecer por tudo sempre, saber retribuir. Mas sou desajeitada com demonstrações de afeto, atrapalhada, boba.

Já que só resta o telefone, já que não posso estar lá para abraça-lo hoje e já que me deu uma vontade enorme de dizer "pai, eu te amo", deixo aqui o meu ensaio atrapalhado mas de coração.



Com todo o meu carinho,

Ale



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Flash Forward



Lá estou eu no pub do clube de corrida como faço toda quarta-feira e entre uma pint e outra alguém menciona um seriado novo, "Flash Forward". Eu tinha visto umas chamadas mas como seriados são sempre empolgantes no começo, mas se arrastam até a gente pegar nojo, nem cogitei conferir.

Para quem não sabe, Flash Forward é um seriado produzido pelo mesmo time de Lost (aquele seriado que todo mundo viu, menos eu, e que acabou se perdendo no caminho). A história gira em torno de um fenômeno que acontece sem aviso prévio onde, de repente, a população inteirinha do planeta desmaia e permanece desacordada por exatos 2 minutos e 17 segundos. Quando voltam a si o caos está formado, afinal, a quantidade de acidentes decorrentes do desmaio coletivo é alarmante. Mas o mais importante, durante esses 137 segundos as pessoas tiveram visões onde se viram 6 meses no futuro. Ninguém sabe como e porque tal fenômeno ocorreu. Para algumas pessoas, as visões foram libertadoras e otimistas, para outras foram confusas e assustadoras e algumas pessoas não tiveram nenhuma visão (porque não estariam mais vivas daqui há 6 meses?). Uma câmera de segurança registra uma única pessoa caminhando despreocupadamente entre os desmaiados durante o fenômeno. Um agente do FBI, no seu Flash Forward (como são chamadas as visões), viu-se analisando uma coleção de pistas que levaria aos causadores do blackout. O FBI começa uma investigação para elucidar o mistério.


Já estamos no quinto ou sexto episódio da série por aqui. Até agora é bem joinha. Mas aposto que vai ser a mesma ladainha de tudo que é série que aparece e não vai terminar nunca. Aposto que vão estragar.

Lá no clube, quando surgiu a conversa, imaginamos o que estaríamos fazendo daqui há 6 meses e a conclusão foi unânime: estaríamos sentados em torno do bar, bebendo nossas pints depois de uma corrida... mesmíssimo cenário. Pior é que ao mesmo tempo em que me pareceu triste - quem quer estar sempre fazendo a mesma coisa?- foi também um alívio porque eu adoro essas quarta-feiras. Também me fez relembrar o quanto encaramos o futuro como certo quando na verdade muitos incidentes inesperados podem surgir mudando o curso de nossas vidas de maneiras inimagináveis.


Voltando ao Flash Forward, porque eu tinha gostado da idéia por trás do seriado, consultei meu oráculo e descobri que o seriado foi baseado no livro que leva o mesmo nome, publicado em 2000 e escrito por um autor canadense, Robert J. Sawyer. Encomendei o livro? Sim! Li? Sim! E gostei muito. E juro que não estragou o seriado porque as únicas coisas em comum são o planeta ter experienciado visões do futuro durante um desmaio coletivo e o nome da personagem principal do livro ser o mesmo nome de uma personagem secundária do seriado. Só. E tendo lido o livro eu estou salva porque se o seriado me decepcionar ou arrastar-se ad infinitum, o livro valeu a pena.

Vamos ao livro.

No livro, o planeta inteirinho perde a consciência por exatos 2 minutos e sim, as pessoas se vêem no futuro, mas em 21 anos no futuro ao invés de apenas 6 meses. Não tem FBI nem grandes investigações envolvidas como no seriado, tudo se passa na Europa envolvendo um experimento com partículas atômicas no super acelerador do CERN (Organização Européia para Pesquisa Nuclear). A projeção coletiva da consciência teria sido um efeito colateral impossível de ter sido previsto durante um experimento conduzido por Lloyd Simcoe, o único nome de uma personagem do livro que o seriado toma emprestado, porque até os papéis são outros.

O livro levanta questões sobre livre arbítrio, se o futuro já está escrito ou pode ser mudado, escolhas e, surpreendentemente, sobre imortalidade.

A leitura é muito boa, a história é bem costurada e flui. Só as personagens são insossas, não tem um herói principal daqueles por quem a gente torce e sofre junto. Eu achei que faltou emoção e empatia para com as personagens. Mas com certeza é uma ótima história de ficção científica e tenho certeza que o seriado não chegará aos pés do livro.



Título: Flash Forward

Autor: Robert J. Sawyer

Publicação: 1999

Editora: Tor Books, Canada

320 páginas





terça-feira, 20 de outubro de 2009

Nuvenzinha negra e sorte (ou como é bom banho de loja).


Um fim de semana cinzento, só para combinar com o meu humor e com a nuvenzinha negra que há mais de uma semana resolveu firmar moradia bem no topo da minha cabeça. Tudo parece estar dando errado, a luz no fim do túnel fica virada num vagalume no leito de morte, espelhos se tornam inimigos, perguntas existenciais importunas do tipo "quem sou eu?", "para que se vive?", "para onde vamos?", etc, se anexam à minha pessoa feito balões em história em quadrinhos. Tudo é uma porcaria e eu sou sou a porcaria mor. Só que nunca fui de me entregar, muito pelo contrário: se é para ir ainda mais fundo pode jogar a pá porque se precisar eu cavo até chegar lá do outro lado.

Por sorte, até agora não me jogaram nenhuma pá na cabeça e, cansada desse poço fundo, escuro e chato pra caráleo, resolvi fazer terapia emergencial, aquela que toda mulher conhece muito bem - fui pra rua. Ou melhor, para as lojas. E com o cartão de crédito do marido (Errrrr... na verdade não foi com o cartão do marido, mas poderia muito bem ter sido. Mas é que eu tenho certos princípios e desconfio que é por isso que acabo no fundo do poço).

Bom, passei o domingão todinho na Oxford Street entrando em tudo que é loja, experimentando roupas, sapatos e acessórios, completamente absorvida com tanta variedade e boniteza. Comprei uns vestidinhos lindinhos, um par de botas de dar inveja, um casaco comprido para o inverno que é tão colorido e maravilhoso que eu, uma pessoa feita para o verão, até não me importo que o inverno chegue de uma vez.

Feliz da vida com as minhas aquisições e carregando sacolas demais, voltei para casa com um baita sorriso estampado no rosto e uma nota mental - da próxima vez é melhor trazer um ser mudo, conivente e musculoso para carregar as compras.

Impressionante o que um banho de loja pode fazer com uma mulher! A nuvenzinha continua no mesmo endereço mas pelo menos o vagalume não está mais no leito de morte. Vai saber como essas coisas de humor funcionam... putz! Que merda que eu estou falando??? É tudo muito simples: o comportamento humano é o reflexo das conexões, interações neuronais e reações químicas cerebrais. Mas deixa pra lá porque não tem nada melhor do que um shoppingzinho inofensivo.

Meu ponto: uma pequena dose de me sentir bem comigo mesma pode ser exatamente o necessário para sair do fundo do poço e re tomar posse dos instrumentos que alguns chamam de sorte. Porque sorte nada mais é do que o otimismo e a habilidade de fazer uma leitura acurada do mundinho ao redor de si (para os interessados em ditas pesquisas científicas e dominadores da língua inglesa, aqui vai um link no assunto http://www.telegraph.co.uk/technology/3304496/Be-lucky---its-an-easy-skill-to-learn.html).

E para provar que banho de loja, ou dia de spa, ou uma bela pegada são receitas infalíveis para levantar a auto estima feminina, tem eu que sou prova mais que concreta porque hoje passei no teste prático para obter minha carteira de motorista britânica! Ah tá!!! Estou até vendo uma coleção de ignoramus sapiens porras nenhumis achando que passar num teste de direção é a coisa mais fácil do mundo, principalmente para quem dirige há mais de... hmmmm se eu disser a verdade vou acabar confessando a minha idade porque tirei a carteira aos 18 anos.... então digamos que tirei a carteira de motorista há mais de 10 anos atrás. Só que aqui nesta %$#*@ de lugar, as regras são totalmente outras e é o maior pesadelo esse teste de direção, principalmente para quem já dirige. Conheço um tantão de gente que é muito melhor do que eu na direção e levou o maior sufoco para passar no teste, tendo que repeti-lo várias vezes.

O foco do teste na Inglaterra é diferente de qualquer outro lugar que eu já ouvi falar. É que enquanto o teste de direção na maioria dos outros países do mundo é mais para ver se a criatura sabe dirigir e tem controle do veículo, aqui eles querem é que a pessoa dirija totalmente concentrada nos outros e na prevenção de asneiras motorísticas. Por exemplo, tem pedestre pronto para atravessar a faixa de segurança? Se não parar para o infeliz atravessar nem continua o teste porque já tá reprovado. Tem um doidinho enchendo e tu tá louco pra enfiar a mão na buzina e dar uma porrada no infeliz? Jamais te darão o raio da carteira se não mantiveres a calma e permitires que o palhaço faça a merda que quiser. Você não usa o freio de mão se parado no semáforo ou simplesmente se parado numa esquina aguardando uma chance de atravessar um cruzamento? Esquece porque não te darão a carteira.

Tem mais um monte de bobeirinha, mas não vou me estender porque o mais importante de tudo é que eu PASSEI DE PRIMEIRA! SOU PHODONA!!!

E viva os banhos de loja. Hooray!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cinema: District 9





Diretor: Neill Blomkamp
Roteiristas: Neill Blomkamp (screenplay) &Terri Tatchell (screenplay)
Duração: 1 hr 52 mins
Gênero: Ficção Científica/Fantasia

Resumo: Peter Jackson é o produtor do filme, que é o primeiro do diretor Neill Blomkamp. Neste filme, a África do Sul recebe refugiados alieníginas...
Atores: Sharlto Copley, Jason Cope, David James, Mandla Gaduka, William Allen Young, Vanessa Haywood, Kenneth Nkosi, Devlin Brown

Assisti District 9 há uns 2 meses atrás. Nem estava esperando nada não porque mal sabia sobre o que era. Saí do cinema de queixo caído. Daqueles filmes de sentar na pontinha da poltrona, daqueles que passam te dando uns tapas na cara porque muito realista apesar de ser ficção científica.


Eu adorei o filme. Não quero estragar para quem ainda não assistiu mas digamos que é uma mistura de Cidade de Deus, A Mosca, ET e Transformers. Tem um monte de sangue e ecas como no "A Mosca". Tem também humor e surpresa.

Se não fosse pelo disco voador no céu e os alienígenas, poderia quase ser um filme sobre a miséria nas favelas e a política toda torta que existe por tudo que é lugar. Completamente diferente dos filmes de ficção científica que esperamos. E um dos melhores filmes do gênero que eu já assisti.

Vale a pena. Nota 10.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Livro: Out




Título: Out

Autor: Natsuo Kirino

Traduzido do japonês por Stephen Snyder

Publicação: 2004

Editora: Vintage
529 páginas


Eu tenho meus escritores japoneses favoritos, como por exemplo, Haruki Murakami, que é reconhecido internacionalmente e bom mesmo. Então, um belo dia estou eu num dos meus lugares favoritos no mundo, esperando pelo livro que me “chamasse” quando “Out” praticamente pulou da prateleira nas minhas mãos. Eu olhei para o livro desconfiadíssima porque: 1-best seller, 2- gênero crime/ policial /detetive e 3- japonês... Vou me explicar. Sou desconfiada de best seller (nem preciso citar exemplos, né não???), e escritora japonesa escrevendo sobre crime /policial /detetive é suspeitíssimo porque eu só pensava em The Ring, no UltraSeven, no Godzilla e naquelas menininhas japas que parecem bonequinhas de desenho japonês animado. Eu sei, eu sei, ignorância pura, mas... resolvi seguir meus instintos e enfiei o livro na cestinha. Mais parentêses ( sabe bêbado que não pode ver um boteco? Bom, eu também não. Mas se tiver o boteco e a livraria lado a lado, a livraria ganha). Daí que um tanto de tempo depois – porque não é só me ganhar na livraria, tem que enfrentar a fila em casa - euzinha, inspirada pela Sunflower-Jana e Jana Lauxen entre outros deliciosos perversos que publicaram seus contos sanguinolentos em Assassinos SA- resolvi que estava na hora de ler “Out”.

AMEI. Muito bom mesmo. Totalmente inesperado mas valeu a pena sim. Quer saber, essa tal Natsuo Kirino merece ser a “Rainha da Literatura Criminal Japonesa” (minha tradução livre do Guardian, swallow it).

Vamos à trama.

Out começa devagar, quase parando. Começa descrevendo em capítulos distintos as pesonagens principais: Masako, Yayioi, Yoshie e Kuniko (vai te acostumando com os nomezinhos, se fores anta em japonês como eu). Elas são quatro mulheres que vivem nos subúrbios de Tóquio, com histórias de vida completamnete diferentes mas que por essas coisas da vida trabalham juntas durante a noite numa dessas empresas que preparam esses almoços prontos que o pessoal de escritório, etc compra na hora do tal almoço. Tá, deixa eu explicar melhor ( e me dêem um desconto porque eu não moro no Brasil há mais de 10 anos): aqui, e pelo jeito no Japão, teu empregador não paga teu almoço. Então, a criatura tem que ir numa Boots da vida (equivalente à Panvel em Porto Alegre) e comprar um sanduba ou uma outra bandeijinha de plástico qualquer com uma salada, ou massa fria pronta, ou um curry indiano, ou etc. Esse é o almoço da grande maioria dos londrinos. Claro que tem sempre gente, como eu, que carrega marmita.

Pois bem, essas quatro mulheres, que não tem nada em comum, trabalham juntas como uma pequena equipe no chão da fábrica durante toda a noite. Retornam à suas casas e famílias pela manhã. É um trabalho duro (dãããããã) e elas tem seus problemas particulares para enfrentar em casa: Yayoi é uma viúva que tem que cuidar da sogra bruxa mesquinha inválida; Kuniko é daquelas peruas que não tem onde cair morta e está atolada de dívidas, mas sempre mantendo a pose e mostrando uma vitrine de chique (breguíssima) e de quem não tem que se preocupar com dinheiro; Masako tem um filho adolescente que não abre a boca há anos e odeia os pais, além do marido estar tão distanciado no mundinho dele (ou ela no dela?) que nem tem mais jeito; e Yoshie, com dois filhos pequenos em casa, não aguentando mais as infidelidades e perda de dinheiro suado (que ela ganha trabalhando a noite) do marido em cassinos, numa bela manhã telefona para a colega Masako pedindo ajuda para se livrar do corpo do marido que ela acabara de matar. E Masako responde “Claro, eu ajudo.” As quatro mulheres acabam envolvidas em dar sumiço no corpo. A polícia encontra o primeiro suspeito, o dono de um cassino /puteiro que acaba tendo que fechar os negócios e, furioso, resolve ir atrás dos verdadeiros culpados. Eventualmente Masako se dá conta que um monstro foi acordado...

As personagens (não só essas quatro mulheres) são muito bem construídas e realísticas. É definitivamente uma história complexa e muito bem costurada. Vai lá no âmago da loucura pessoal, chega naquele lugarzinho escuro e proibido onde a pergunta que paira é: até que ponto você iria para escapar de uma vida sem sentido e sem saída?

Sim, o enredo começa quietinho e até enjoadinho, mas de repente o leitor é jogado numa trama emocionante de caça ao rato e vamos ver quem é mais esperto. Tem um tanto de horror, sangue, morbidez e suspense (afinal, a mulherada cortar em pedacinhos o defunto para espalhar pela cidade na tentativa de não deixar traços é só o começo).

Tem até um brasileiro metade japa e imigrante que, de tarado, vira amigo do peito. Tem um tanto de denúncia em relação às condições das mulheres na sociedade japonesa (se é que é assim porque eu confesso que desconheço a situação). Mas na minha modesta e super pessoal opinião, o forte está no desenvolvimento das personagens, no jeito que não interessa os motivos mas a ligação forte, a empatia (mesmo toda errada) que cada personagem provoca no leitor. É uma história estranha (cantei a pedra na minha primeira impressão) mas que vale a pena.

Bem, esse é o primeiro livro traduzido para o inglês da mais bem sucedida escritora japonesa contemporânea do gênero crime. “Out” recebeu o prêmio Naoki e o prêmio na categoria melhor crime/mistério no Japão.

Quer ler algo que vai te deixar dias pasmado e em luto por ter terminado o livro? Leia “Out”. Detesta o gênero crime mistério? Nem te dá ao trabalho. Não te interessa o gênero, mas uma boa história muito bem escrita? Reza para alguém bom traduzir para o português. Vale a pena. Bom pacas.

domingo, 4 de outubro de 2009

Banzo II: minha amiga Rachel




Eu sinto saudades da Rachel. Hoje estava eu aqui fazendo as unhas sozinha e lembrando daquela vez que resolvemos ir num negócio só de unhas aqui perto de casa. Concordei porque não lembrava o porquê de não ter o costume de ir fazer as unhas em nenhum salão aqui em Londres. Expliquei que o único jeito de uma boa manicure seria encontrar uma brasileira nos anúncios da Leros mas ela queria saber porque "é por que não tiram cutícula?" ou "é por que é caro?". Ah! eu sei lá! No meu cérebro só estava registrado que não valia a pena. Pois bem, fomos num sábado no tal negócio exclusivo e especializado em manicure e pedicure. Negócio da China! Um monte de parafernália, o troço parecia super profissional. Umas chinesas super mal educadas nos atenderam.

Resultado: cutícula elas não tiram, dão uma aparadinha insignificante nos lados, mas aquela camada toda de cutícula que cobria quase metade das minhas unhas, a moça deixou ali na maior cara dura. Na hora de passar o esmalte, bom, uma piada. Meu filho teria feito um serviço muito melhor! Porque elas desconhecem palito tomam o maior cuidado para não encostar na pele do dedo, então fica aquela faixa de esmalte no meio da unha. Ridículo. E cobraram 10 libras (oi! 39 reais!!!) pela palhaçada. Voltamos para casa com as mãos escondidas nos bolsos e fizemos nossa própria manicure ao som dos Mamonas Assassinas (achei o cd numa caixa e deu a maior nostalgia).

Hoje é domingo e eu queria a Rachel aqui para ir para Camden comigo. Ela sabe passear por Camden. Aliás, a guria é a melhor companhia para passear por Londres. Não tem tempo feio, tudo tá bom, tudo vira festa. Parceira de várias indiadas.

Uma das indiadas lendárias foi a vez que fomos convidadas para passar uma tarde caminhando no lodo na beira do rio. Um amigo em comum estava de aniversário e como ele mesmo disse "o aniversário é meu, eu escolho o que vamos fazer", não discutimos. Como envolvia um rio, eu ignorei as palavras lodo e lama porque nem passou pela minha cabeça que alguém fosse querer caminhar com lama e lodo até os joelhos para comemorar o aniversário. Tinha formado uma imagem idílica na minha cabecinha de pandorga que seria um lindo passeio pelas margens de um rio cristalino cercado por verde e ar puro. Ingênua que dói.

Fomos em uma turma de umas 20 pessoas, cada um na sua bicicleta. O rio era o próprio Tâmisa num pedaço horroroso e cheio de concreto. Na entrada combraram 10 libras por pessoa, nos forneceram galochas de borracha até as coxas e uma guia. Nunca tinha visto tanta lama ao vivo na vida. Nem quando dava enchente na Ferrugem. Pior do que eu vi na TV uma vez, onde uns caras se atolavam para pegar caranguejo (acho que se chama mangue - ignorância é phoda!). Mas pior foi o fedor, um cheiro de esgoto de dar vontade de vomitar! E aquele bando de abobados seguindo uma guia que falava sobre a flora (limo e o que mais mesmo???) e a fauna (sanguessugas, enguias e carcaças de siris) do Tâmisa e todas as coisas interressantes que o rio trazia (carrinhos de supermercados, laptops, bicicletas, pneus, tampinhas de garrafas, latas, etc). O cara simplesmente conseguiu encontrar o pior ponto do rio para ir passear.

Esse dia foi nomeado pela Rachel como "O dia em que fomos passear no esgoto". Perfeito.

Outra indiada braba foi eu ter concordado em ajudar numa feirinha beneficiente da igrejinha local. Pleno domingo maravilhoso de sol e de manhã bem cedinho lá vou eu carregando minha fiel companheira de programas toscos para trabalhar numa estante de quinquilharias de segunda mão. De graça.

Mas nem só de roubadas temos boas recordações. Quantas ressacas não curamos juntas??? Eu e a minha amiga Rachel fizemos muitas festas juntas, bebemos várias pints em vários pubs pela cidade, fizemos muitas compras e programas de mulherzinhas juntas, bebemos muito chimarrão e trocamos muitas confidências. Que saudades daquelas finais de tarde em que abríamos uma garrafa de vinho e tagarelávamos sentadas no pátio de casa... e já na terceira garrafa íamos azucrinar os vizinhos para vir beber conosco ou saíamos pelos parques atrás de raposas no meio da noite!

Amiga como a minha Rachel é coisa raríssima. É como uma irmã. Uma guria que vale mais que ouro. Toda linda, ela. Por dentro e por fora. Coração enorme, inteligente, divertida, autêntica... sabe aquelas pessoas que a gente sabe que vão fazer parte da nossa vida para sempre, independente de tempo e distância??? Sabe uma amiga que sabe te maquiar ( e foi embora sem ensinar direito)?

Pois é, amiga. Só o Oceano Atlântico entre nós... Hoje está fazendo um dia joinha aqui em Londres e tu por aqui seria um dia perfeito! Volta para casa, vai...




quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sobre misticismo


Quem é que já não fez seu mapa astral, leu cartas, fez numerologia, cristais, esteve no terreiro com a pomba gira, ou sei lá onde com médiuns? Ou ao menos leu o horóscopo??? Quem não teve aquela amiga enlouquecida que, é só dar umas doses de whiskey e ela começa a profetizar e enxergar aquelas coisas que ninguém saberia???

Pois bem, eu uma vez, fui com a mulherada do lugar onde fazia estágio numa criatura que até hoje não lembro se lia cartas ou bola de cristal. Tal era a minha empolagação. Era num fim de mundo. Quando chegou a minha vez ela disse um montão de coisas que não fizeram o menor sentido e, entre elas, que me via morando em uma cidade grande e bem longe, perto da praia e com um cara que até hoje não lembro se ela disse alto e de cabelo castanho ou baixinho e loiro ou baixinho de cabelo castanho ou alto e loiro (tá, não tem muita permutação nisso mas vai ser eu naquela época... eu não tinha idéia do que a louca estava falando). Na época, e devido às minhas circunstâncias, tudo que me passou pela cabeça é que eu iria morar em São Paulo (Ilha Bela, oi?) e que ainda não tinha conhecido o meu par. Hoje moro longe pacas, numa metrópole, é tecnimamente uma ilha e eu espero sinceramente que ela tenha dito alto com cabelos castanhos....

Anos depois, lá estava eu num jantarzinho com mais uma mulherada (sempre elas que acabam te pondo nisso! Já viu homem dizer "Futebol lá em casa. E vem a Zara Yonara baixar na Consuelo para ler o nosso horóscopo!) e lá vem uma delas com o mapa astral de cada uma. A única coisa que lembro (das mil que ela disse) é que eu não sei fazer dinheiro, que sou um zero a esquerda com o sinal de menos/negativo na frente. Na época achei que ela estivesse chutando. Hoje acho que a mulher tinha razão e até me arrependo de não ter prestado atenção no resto. Vai que tinha algo de bom e interessante? Porque em relação a fazer grana, ela não poderia ter profetizado melhor.

Pois esses dias uma amiga fez numerologia. Ela está na mesma situação de todo mundo, brilhante, talentosa e penniless. Aí que os números revelaram o seguinte: em exatamente 7 anos ela vai tornar-se rica, linda e famosa. Linda ela já é (mas é bobona). Agora, rica e famosa??? Tem gente com a retaguarda virada para a lua, não tem??? No momento que recebeu a notícia ela perguntou para a numerologista (sempre mulher essa gente!) se podia hibernar até lá. Boa idéia, mas parece que os números não gostam muito disso. Tem é que ir ralar, suar, até duvidar, mas descansar ou se recolher numa caverna e entrar em hibernação não vale.

Sim, porque eu sou uma jangada encalhada, lembra ??? Não sai coelho dessa minha cartola. Me resta torcer para que seja tudo balela. Apesar de que também ganho se torcer para que seja verdade porque vai ser a minha primeira amiga rica e famosa.

É sempre bom sonhar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Livro: The Angel’s Game (O Jogo do Anjo)



Título: The Angel's Game (O Jogo do Anjo)

Autor: Carlos Ruiz Zafón

Publicação: 28 de maio de 2009

Editora: Weidenfeld & Nicolson

441 páginas

(Original em espanhol publicado em 2008)


Esse é o mesmo autor de The shadow of the Wind, livro bom pacas.

The Angel's Game se passa em Barcelona, na década de 20, onde encontramos David Martin, um escritor talentoso que teve uma infância sofrida. De natureza solitária, David mora num casarão abandonado que guarda uma história sinistra. David é daquelas pessoas de boa índole e capazes mas com uma vida cheia de obstáculos e dificuldades em que nada parece possível: o dinheiro é sempre curto, a mulher amada não pode ser sua, seus editores inescrupulosos exigem que publique seus trabalhos sob um pseudônimo e para arrematar descobre que possui uma doença fatal. Desculpem meu francês, mas o cara tá fodido!

Um dia, um editor francês esranhíssimo o procura oferecendo uma enorme quantia em dinheiro para que David escreva um livro que mude a vida das pessoas, um livro com uma religião nova. A idéia soa meio sinistra mas David não vê a hora de livrar-se dos editores para quem trabalha e poder publicar sob seu verdadeiro nome. David explica ao francês que seu contrato não permite que ele simplesmente deixe seus editores e o francês responde que eles não serão nenhum obstáculo. Resultado: os editores morrem num incêndio...

Enquanto relutantemente trabalha para o editor francês, David escreve seu próprio livro e ainda ajuda seu melhor amigo reescrevendo o trabalho dele também. Só que quando os livros são publicados, é o livro do amigo – escrito por ele! – que vira um sucesso enquanto o seu recebe pesadas críticas.

Não vou contar toda a história e olha que até agora contei só um tiquinho que dá para ler na orelha do livro. Admito que Carlos Ruiz Zafon tem o dom de contar histórias, ele sabe fisgar o leitor. Só que enquanto o livro promete, não cumpre. Acaba virado num labirinto cheio de caminhos sem volta e enquanto eu tinha fé de que desembocaria na saída do labirinto... bem, me senti traída. A história terminou e me deixou pasma. Sobre o que foi todo esse corre-corre???

O bom do livro é que transporta o leitor para as ruas de Barcelona, dá quase para sentir o cheiro! Também carrega o leitor para o "Cemitério dos livros perdidos", um labirinto secreto de livros que fica debaixo de Barcelona, tão grande que dá para se perder lá dentro. A história é cheia de mistérios, mentiras, mortes, romance, segredos e várias doses de sobrenatural.

Enfim, mais idéias boas do que dom para tecê-las e finalizá-las de maneira convincente. Mas vale a pena ler, é daqueles livros de não querer largar. Mas nada assim tão especial para ter tido tanta repercussão aqui por essas bandas.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Olha só a felicidade do Super Rafael no seu novo trampolim!


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Livro: Uma carta por Benjamin



Tíulo: Uma carta por Benjamin
Autora: Jana Lauxen
Editora: Multifoco
Publicação: abril de 2009
136 páginas
















Uma carta por Benjamin conta a história de Benjamin, um cara super apático, que vive de mesmice, da sagrada rotina, isolado e distante. Se não fosse o fato de ele simplesmente não se incomodar com a insistência em ser uma ilha, eu diria que esse cara tem Síndrome de Asperger. Benjamin não é dado a contatos sociais, mal percebe as pessoas a sua volta, um umbigão só. Não quer saber de se involver com nada, nem ninguém. Faz o trabalhinho medíocre dele para se sustentar (manter-se vivo, porque ôôôô vidinha insossa!) e faz tudo igual todo o santo dia.

Até que sem mais nem menos, um dia ele recebe uma carta pelo correio. Pelo correio!!! Quem recebe carta pelo correio hoje em dia??? Em plena era da internet??? Pois uma tal de Madalena começa a escrever cartas para Benjamin. Cartas íntimas, como se o conhecesse (pobre Benjamin não lembra de nenhuma Madalena!). E a partir daí a vida de Benjamin muda porque querendo ou não (e no caso dele não querendo mesmo), Benjamin é sugado para dentro de uma conspiração onde mesmo sem querer ele não tem opção mas tomar uma atitude.

Uma história que cutuca. Quantos de nós faz questão de fazer o possível para não se envolver com nada e com ninguém? Quantos de nós não prezamos a segurança de nossos casulos e só sairíamos de lá à forceps???
Se eu gostei do livro? Sim, bastante. Essa menina escreve muito bem (ainda vai se ouvir falar muito dela e ha ha! Morra de inveja, meu exemplar é autografado!); você quer virar a página morrendo de curiosidade, a história flui mesmo. E esse tal Benjamin? É conhecido de todos, ou você o conhece de dentro, ou já viu por aí.

Para quem ficar interessado em saber mais sobre a autora http://janalauxen.blogspot.com/.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Minha experiência frustrada com um clube de leitura

Quem me conhece sabe que eu leio um bocado. Não saberia viver sem livros, sem histórias, sem um outro mundo, sem poder ser outras pessoas de um jeito "seguro" (é que até dá para ser outras pessoas no dia a dia, mas é mais complicado e essa é outra história...). Sim, porque quando eu leio, eu entro no livro, eu sou as personagens.

Uma vez me inscrevi num "reading group", um grupo de leitura organizado pela biblioteca local. Funcionava como, presumo eu, tudo o que é grupo de leitura: todos leem o mesmo livro, reúnem-se e dissecam a leitura. Era um grupo pequeno, umas doze pessoas no máximo, todos ingleses, desde aposentados até professores da rede pública. Nós nos reuníamos uma vez por mês e li uns livros bem interessantes durante o ano que frequentei o grupo. Só que, além de um livro por mês ser uma merreca, o tempo do encontro era muito curto e eu sempre saía com a impressão de que poderia ter sido melhor a discussão. Não que eu contribuísse lá grandes coisas, mas talvez porque os integrantes não se conhecessem fora do grupo - e aí é sempre mais difícil dar a cara para bater - eu ficava com a impressão de que faltava profundidade, emoção, associações livres coerentes e também estapafúrdicas, comentários interessantes. Era sempre tudo muito superficial, muito impessoal. O organizador do grupo se aposentou e eu junto, pelo menos desse grupo.

E lá se foi toda a minha ideia fantasiosa de que grupos de leitura são empolgantes, regados a vinho (talvez fosse exatamente esse ingrediente que estivesse faltando no grupo acima citado) e conversas progidiosas entre pessoas interessantes. Uh huh.

Agora diga-me, não é bom ler e poder trocar ideias sobre um livro, poder compartilhá-lo com outro ser, quem sabe escutar uma outra perspectiva?

Bom, como eu raramente tenho com quem falar sobre os livros que eu leio, os muitos filmes e os pouquíssimos musicais do West End que eu já assisti - e por aí vai - resolvi que vou comentá-los aqui mesmo. E começo amanhã porque hoje já não dá mais tempo.
E inclusive já sei bem direitinho por onde começar! Vai ser com uma escritora gaúcha de Pelotas.
He he!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Gente Grande

Quando eu era criança, cronologicamente falando, me achava a maior gente grande. Lembro de ter uns 5 ou 6 anos, estava no Pré e por alguma razão atravessei o pátio da escola que parecia imeeeenso para ir buscar a minha irmãzinha no Jardim de Infância. Cheguei lá e vi aquela criançada para tudo o que é lado, a professora me convidou para entrar na sala e esperar um pouquinho até a turma se organizar. E tudo o que passava pela minha cabeça era por que raios a professora não me pedia para ajudá-la a dar conta das crianças???

Eu entrava num avião sozinha e ía até São Paulo passar um mês na casa da vovó. E levava e cuidava da minha irmãzinha.

Eu era responsável pelos meus estudos e entregava meus temas em dia. Estudava para as minhas provas e não passava pela minha cabeça criar problemas na escola e não resolvê-los por mim.

Eu não entendia porque eu podia pegar ônibus sozinha (carregando a minha irmãzinha, é claro) para ir para a escola ou para a aulinha de inglês, e tinha que ouvir não quando pedia para ir no carnaval de salão da praia que todas as minhas amiguinhas nem tão mais velhas assim frequentavam.

Eu acreditava que deveria resolver os meus assuntos sozinha. Sejam quais fossem. Eu era a primeira a oferecer um ombro e tentar e querer resolver os problemas dos outros. Mas não admitia que alguém se metesse nos meus (ou não sabia como pedir ajuda).

Mas seja lá qual fosse a situação e o desepero, eu acreditava piamente que tudo daria certo, que sempre há uma luz no fim do túnel, mesmo quando está tudo tão escuro como se a luz tivesse se extinguido.

Eu era uma menininha mandona, meio sabe tudo e com uma capacidade monstruosa de odiar com uma raiva mortal qualquer imbecil que me tratasse como uma criança comum. Eu sabia exatamente o que eu queria (ou pensava que sabia). Eu não via a hora de virar gente grande de verdade e ser a exclusiva dona do meu próprio nariz.

O tempo foi passando. Hoje eu sou, cronologicamente falando, um adulto. E continuo esperando virar gente grande. Só que já não tenho mais certeza de nada. Apenas sei que há sempre uma luz no fim do túnel. Mesmo quando está tudo tão escuro que parece que a luz se foi.

domingo, 19 de julho de 2009

Festinha Anos 80


Fui numa festa de aniversário com o tema anos 80. Quando recebi o convite há alguns meses atrás, confesso que fiquei um pouco horrorizada, afinal, ter que ir fantasiada de anos 80 é o fim, pensei. Tá, a música era legal mas a moda da época... de chorar. Aquelas ombreiras gigantescas, um monte de maquiagem colorida na cara e o cabelão espanador. Que dor.

Mas com a festa se aproximando começou aquele alvoroço para encontrar alguma coisa anos 80. Eu queria ir como o Jason ou o Freddy Krueger só que como a mulherada só falava no lado fashion dos anos 80, eu acabei desistindo dos monstrinhos serial killers. Depois de dar uma pesquisadinha básica no meu oráculo google, fui para as lojas ver o que poderia encontrar. Fiquei chocada com a quantidade de roupas e acessórios anos 80 que encontrei. Quase tudo é anos 80 hoje em dia. As ombreiras, ainda bem, ainda não. Mas aquelas coresinhas amarelo limão, rosa "choque", verde limão... estão todas lá nas vitrines. As "polainas", as sainhas balonês... bah! Eu não gosto, não. Mas fantasia é fantasia. Cheguei a arrecadar algumas dessas peças circenses, guardei o recibo, mantive as etiquetas e qualquer coisa seria só devolver esse lixo todo. Engraçado é que é como quando se está grávida e, de repente, aparece uma montoeira de mulher grávida barrigudíssima na rua, coisa que passava desapercebida antes. Então comecei a notar que a quantidade de mulheres e principalmente adolescentes vestidas com as tais famigeradas cores acima citadas era absurda. Bah!

A festa se aproximando e eu nada feliz com o meu outfit. O Michael Jackson morre e lá se vai a minha idéia de ir a lá Thriller. Já pensou quantos iriam aparecer assim??? E se você decidir consultar o google quanto a moda anos 80, o que mais dá é a Madonna. Putz. Daí que consultando assim e assim, me deparei com a Siouxsie Sioux. E uma coisa puxa a outra e pronto, fiquei na pilha de ir tipo dark/goth anos 80. Entrei numa loja super High Street e achei o vestidinho perfeito. Calças ciclista de renda, cruz no pescoço... só faltou a bobona da Rachel que me abandonou estar aqui para dar uma mão na makeup porque continuo uma negação nesse departamento. Ela teria arrasado. Não só na minha makeup como também no modelito dela. A festa era bem para ela ter ido. É uma pirralha, era um nenê durante os anos 80 mas ela teria tirado de letra.

Enfim, chegou o dia da festa e eu consegui me fantasiar de Madonna from Hell. Pronto, agora já tenho roupa para o próximo Halloween, hooray.

A festa estava ótima! Todos os convidados se esforçaram, tinha os Blue Brothers, rock stars, Ghostbusters, a Madonna Like a Virgin grávida de 9 meses (!!!), Adam Ant, Crocodile Dundee, Boy George, uma criatura vestida de celular gigantesco (lembra como eram uns tijolos???), o Mark Knopfler, umas coisas que eu não identifiquei, muita gente simplesmente fashion anos 80 e o DJ foi ótimo. Pena que durou pouco, eu jurando que iria virar a noite dançando e não eram nem 2 da manhã quando terminou tudo. Eu quero mais festa assim mas que vire a noite!!!


Os anfitriões: Lobisomen Adolescente e Madonna Like a Virgin


Os Blue Brothers com as minas.


Smurfete e aquela do Scooby-Doo (Daphne???)


Crocodile Dundee e Boy George na esquerda.




Pô! E não tinha um Michael Jackson!!! E eu deveria ter seguido meus instintos e ido de Freddy Krueger sim!!!


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu tenho, eu tenho

Eu ganhei um iPhone 3G!!!
Eu ganhei um iPhone 3G!!!
Eu ganhei um iPhone 3G!!!
Eu ganhei um iPhone 3G!!!
Tra la la lá, lala lá!!!
Que futilidade mais deliciosa!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cachorrinhos, cadelinhas e cavalinhos.





Um lindo domingo de sol e eu, cansada de estar enfurnada em casa lendo dormindo e comendo, resolvi levar meu filho e a cadelinha para passear no parque. Fomos de bicicleta, uma meia- horinha pedalando devargazinho (a Daisy é baixinha, tem as perninhas curtas - putz! E não é que dizem que o cachorro é sempre a cara do dono??? - imagina a cadelinha ter que correr atrás das bicicletas, não dá!).


Logo na entrada do parque tem uma colina seriamente íngreme. Claro que o Rafa enlouqueceu, empurrou a bicicleta até o topo e desceu com tudo. Eu, como boa mãe que sou, fechei os olhos apavorada enquanto rezava para o anjo da guarda das crianças. Mas ele desceu direitinho, quer dizer, desceu à milhão mas quase na base, ao invés de se espatifar contra uma árvore, ainda deu uma derrapada calculada e freiou perfeitamente. Repetiu a façanha mais umas cinco vezes. Lá pelas tantas cansou e veio sentar-se ao meu lado. Mas não descansou nem dois minutos e logo pegou a bolinha de tênis e saiu a correr com a Daisy. Atirava a bolinha e competia com a cachorra para pegá-la primeiro.


Nesse meio tempo surgiu um cãozinho número perfeito da Daisy com seu dono. Baixinho, simpático e cheio de energia. Foi amor a primeira vista. Uma galinhagem só. O Rafa continuou brincando com os dois mas logo em seguida eles não estavam mais interessados em bolinha de tênis. O Alfie estava era fazendo o possível para se dar bem. O dono, todo envergonhado me pedia desculpas pelo comportamento do cãozinho. Expliquei que não tinha problema, Daisy era "vacinada". E o Rafa todo contente grita de longe:


-Mãe, olha só que legal! Elas estão brincando de cavalinho!

Não me contive e em meio à risadas concordei com ele, sim, sim, cavalinho...

Também tive que corrigir o Rafa que insistia que Alfie era uma cadelinha. Aquele não era uma cachorra, era um cãozinho, expliquei.

- O quê? Não, é uma cachorra! Insistia ele.

O dono prontamente confirmou que era um cachorro.

-Mas e cadê o pinto dele, então? Pergunta o Rafa.

O que eu podia dizer?

-Ele é peludinho, deve estar escondido.


Sabe o que ele fez? Foi lá fazer carinho na barriga do Alfie para conferir. E lá está o Alfie, deitadinho de barriga para cima, curtindo um cafuné e com o dono ao lado provando a masculinidade do seu meu melhor amigo:

-Viu? É macho!

-Mas esse é o menor pinto que eu já vi num cachorro! Revida a criança.


Não sei se foi coincidência mas logo em seguida Alfie e seu dono resolveram seguir sua caminhada.


terça-feira, 23 de junho de 2009

Macaquinha de auditório

Sábado passado fui assistir Coraline em 3D. Sempre achei 3D a maior bobagem porque nunca tinha funcionado antes mas desta vez aprendi que 3D é muito divertido. Então, lá estou eu numa salinha de cinema com muito mais adultos do que crianças, com aqueles óculos de Clark Kent, um balde de pipoca no colo e as imagens começam a "sair" da tela. Eu, abobada, tentando tocá-las. Sim, mora uma eterna criança dentro de mim, que facilmente fica maravilhada pelas coisas mais inesperadas. E eu admito, assumo e na verdade me divirto horrores com ela.

Mas voltando ao filme, eu há horas que queria muito assistir. O filme é baseado no livro Coraline, de Neil Gaiman, meu autor favorito. Ele escreve fantasia e é capaz de incorporar mundos, situações e personagens incríveis e de maneiras inesperadas em meio às situações mais comuns do cotidiano. Simplesmente jorra material inconsciente da cabeça desse homem.

No caso de Coraline, é para ser uma história de horror para crianças. Coraline é uma menininha que muda-se com seus pais para uma nova casa. Ela quer atenção, quer conversar, quer brincar, mas seus pais estão sempre ocupados com trabalho, sempre em cima de um teclado. Explorando a nova casa, Coraline encontra uma porta que liga à um túnel que ela consegue atravessar engatinhando. Do outro lado, encontra a mesma casa só que com toda a mudança e a decoração já em seus devidos lugares e muito mais bacanas. Nesta casa ela encontra, inclusive, uma versão muito melhorada dos seus próprios pais: eles tem tempo para ela, tudo é muito melhor. Só um pequeno detalhe: no lugar dos olhos, eles têm botões. Sim botões! E aos poucos, Coraline se dá conta que a "outra mãe" que diz amá-la tanto, possui um jeito sinistro de expressar esse amor...

O Rafa já tinha assistido ao filme (sem mim, traidor!) e ele usou a palavra perfeita para descrevê-lo: "creepy". Mas maravilhoso, eu gostei muito.

Voltando a essa criança que habita dentro de mim, ela emergiu com tudo na segunda-feira. Na escola onde eu trabalho, recebemos a visita de um autor de livros. Ele veio para contar às crianças sobre seus livros, que nesse caso, são sobre animais. O nome dele é Michael Leach, é fotógrafo e já escreveu trocentos livros traduzidos nos mais variados idiomas sobre as mais variadas espécies de animais. Ele trouxe exemplares dos livros, fotografias e nos contou muitas histórias interessantíssimas sobre cada uma das fotografias que ele nos mostrou. Eu, já virada numa macaca de auditório, estava empolgadíssima. Aprendi umas coisinhas novas: lobos não atacam seres humanos. Nunca se ouviu falar em lobos comerem gente, isso só acontece na história da Chapeuzinho Vermelho. O mesmo vale para gorilas, que são criaturas delicadas e sociáveis e que morrem de medo do bicho homem. Já chimpanzés podem vir a ser cruéis e canibalísticos. Segundo Leach, mil vezes ser atacado por um leopardo do que um chimpanzé. Os chimpanzés são o "homem do saco" dos gorilinhas: eles roubam os gorilinhas e os comem! Ele também contou que quando esteve na Antártica, os penguins tinham essa mania de se acomodar em cima dos seus pés, colados nas pernas dele para se aquecerem. Também nos contou em detalhes seu encontro e convivência com gorilas e nos forneceu instruções detalhadas de como se comportar na eventualidade de algum dia nos depararmos com um. Simplesmente histórias fascinates, daquelas que gente como eu só vê pela televisão em documentários da National Geographic. E o cara ao vivo, na nossa frente, nos contando como e onde vai buscar o material para seus livros... Ah! E apesar das crianças serem novinhas (de 3 a 6 anos), elas estavam fascinadas, só não mais do que eu.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

As surpresas da vida

Quando menos se espera a vida se encarrega de surpreender das maneiras mais inusitadas, inesperadas e inimagináveis. E o que a vida traz pode ser tanto bom como ruim, pode ser uma catástrofe ou uma benção, uma alegria ou uma tristeza. O sujeito pode estar feliz da vida, tudo andando bem e tudo pode acontecer. Às vezes as surpresas podem ser bem ruins e tristes. Às vezes as surpresas parecem desagradáveis à princípio mas, mais tarde, revelam-se bençãos. E às vezes são pura e simplesmente surpresas mais que boas e bem-vindas.

Pois a minha surpresa mais recente foi dessas ultimas, as super boas. Nos últimos dias tive a honra de receber aqui em casa uma pessoa que eu admiro, gosto, amo muito e que tem a minha gratidão eterna por ter segurado a minha mão tantas vezes. Ela mora no meu coração e eu sei que tem um lugarzinho no coração dela que é meu. Daquelas pessoas que são amigas de verdade, onde o tempo e a distância não existem na relação. A não ser para dar saudades, é claro.

Então cá estou eu, com a minha tosse super chiquérrima de assustar até defunto, quando toca o telefone e eu fico sabendo que ela está chegando com o filho de 13 anos e em menos de 48 horas. Pronto, felicidade total com um misto de me belisca que eu estou sonhando. Tá acontecendo mesmo??? Revolução na casa, arruma aqui e ali, dá jeito de criar espaço porque nem que eu tiver que dar o meu quarto e armar uma barraca no pátio mas eu tenho que dar um jeito. Ela é importante assim para mim. Mas não precisei armar a barraca e acomodei todos nós. E deixa eu aproveitar para dizer que meu marido é um santo, faz tudo o que eu digo, e até mais, e todo contente (não vai pensando que eu não enxergo!).

Tudo pronto e beleza. Deu tudo super certo e foram uns 5 dias super legais mesmo. Fora que só fez sol e tempo bom, muito raro por aqui. Eu não podia ter ganhado um presentão melhor. Surpresa muito boa mesmo. E o que é esse filhote dela de tão querido??? Como diz a minha mãe, o fruto não cai longe do pé. Ou como a minha amiga mesmo diz, não é filho da macega. Um guri gente muito boa mesmo, educadíssimo, de uma baita sensibilidade, bom de estar junto. E lindo! Sim, dá até pena das guriazinhas; vai dar uma trabalhareira!

E, um belo dia, nem sei bem qual foi a pergunta, e o guri me chama de tia Ale. Veja bem, tia! Enquanto eu calma e solicitamente respondia à indagação com um sorriso de gato Cheshire estampado no rosto, a ficha ía caindo em câmera lenta – um adolescente de 13 anos e muito mais alto que eu (tá, qualquer anão é mais alto do que eu, mas ele é alto de verdade ) me chamando de tia Ale...

...claro que mil sentimentos e recordações fizeram pop-up no meu cérebro. Quando eu e minha irmã éramos pequenas (engraçado isso que sempre que lembro de mim criança tem a minha irmã "tagged along". Engraçado mas bem compreensível, afinal éramos inseparáveis – mesmo quando de mal - e temos menos de 2 anos de diferença de idade), nossos pais tinham lá seus amigos, aquele grupinho que faz quase tudo junto, todo mundo se vê com certa frequência um na casa do outro, em aniversários dos filhos, jantares, churrascos, etc. Todos eram casados e tinham filhos mais novos que eu e minha irmã. E praticamente nos viram nascer e por questões culturais nos referíamos a esses amigos dos nossos pais como tio e tia ("o tio João e a tia Maria"). Todo mundo era tio e tia. Como todas as crianças, tínhamos nossas percepções destes adultos "tios". Por exemplo, tinha uma certa "tia" que não íamos muito com a cara porque ela aparecia nas nossas festas de aniversário sem nenhum presente. Até aí tudo bem (apesar de que qual é a criança que não espera um presentinho no seu aniversário???). O problema é que ela logo vinha desculpando-se e perguntando o que queríamos e que então iria entregar o presente outro dia. Ela aplicava esse truque todos os anos!!! Só que nada de presente. Melhor ter ficado calada. E olha que não pedíamos um pônei ou uma bicicleta, era simplesmente o LP das Frenéticas ou da Turma do Balão Mágico. Nada demais. Também não gostava de ir na casa dela, era sempre bagunçada. E ela era impacinete com os filhos. Mas eventualmente desapareceu das nossas vidas e não fez falta. Tinha uma outra "tia" que gostávamos muito. Essa só dava presente bom e legal e falava conosco com interesse pelo que tínhamos a dizer. Essa continua nas nossas vidas, ainda bem, e ela nunca nos decepcionou, muito pelo contrário, nós gostamos dela cada vez mais. A última "tia" da minha lista (já me estendi demais) eu achava divertidíssima, gostava mesmo. Depois passei anos sem vê-la e por essas coisas da vida, ela reapareceu na minha vida. A bocó aqui ficou super entusiasmada e emocionada, todo aquele carinho de criança transbordando, meu coração ali numa bandeja e só me dei conta que ela era uma falsaloucaduascaras tarde demais. Fiquei super decepcionada, me senti traída! Ela me viu nascer!!! Mulher ruim!

Toda essa lenga-lenga sobre "tias" só para tentar explicar a ficha caindo quando o meu guest de 13 anos me chamou de tia Ale. Primeiro foi o choque porque só criancinhas pequeninas já me chamaram de "tia". Entre elas meu sobrinho que mesmo que fosse mais velho do que eu teria esse direito (mas não é o caso). Também aqui onde eu moro não faz parte da cultura as crianças chamarem as pessoas de "tio" ou "tia". E, por algumas frações de segundo na minha cabeça, aquele garotão ali me chamando de "tia Ale" não estava correspondendo ao cenário criancinhas me chamando de "tia". Mas logo em seguida vem o seguinte raciocínio, ele não é um adulto ainda e se está me chamando de "tia" é porque eu sou um adulto aos olhos dele (ponto para mim, isso é bom porque afinal eu sou um adulto. Ao menos cronologicamente). Próximo raciocínio: se ele está me chamando de "tia Ale" é também porque eu sou amiga da mãe dele, e isso além de ser algo especial é dar-se conta de que eu sou parte daquele nicho ali. Concluindo, no que a ficha caiu, senti duas coisas importantes: 1 – que legal eu ser a "tia Ale" dele por todas essas coisas legais que isso representa e 2 – eu prometo que vou ser sempre a "tia Ale" que tu levaste daqui, eu sou isso aqui e nunca vou te decepcionar, tá bom?! Podes sempre contar comigo. Que bom ter mais um "sobrinho" (sobrinho é sempre meio filho...), principalmente um assim tão interessante e legal como tu.

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PS. Obrigada ao meus guests amados pelos dias maravilhosos, o carinho e a companhia. E pela inspiração. Amo vocês.

domingo, 24 de maio de 2009

Muito tempo depois...

Já faz mais de um mês que estamos de volta à Londres. Só que tenho a sensação de que faz muito mais tempo. Muita gente aqui me perguntou se eu senti saudades de Londres ou se eu não teria vontade de retornar ao Brasil. O fato é que é muito estranho o sentimento. Quando digo que vou para o Brasil, tenho a impressão que estou indo para casa. Mas quando estou lá fico com saudades da minha casa em Londres e é onde sinto que é o meu lugar. Conversando com outras pessoas em situações parecidas, cheguei a conclusão que esse negócio de ser imigrante acaba esculhambando com o coração da gente: ele nunca está inteiro num lugar só. Nunca. A criatura está sempre meio despedaçada (e logo eu que não precisa de muita coisa para ser um conjunto de peças...).

Logo que chegamos o tempo estava super bom, meio que um veranico. Ótima distração para não sentir tanto a falta do que ficou lá do outro lado do Atlântico. Desde então já tivemos chuva, frio, vento e, desde sexta-feira, dias lindos e quentes mais uma vez (quentes para Londres, porque quente mesmo não está). Infelizmente não estou podendo aproveitar porque uma dor de garganta super forte resolveu se apossar de mim, com direito a tosse, mal estar, nariz ranhento e todas essas coisas chatas que acompanham as gripes. E também não aguento mais o comentariozinho "Mas não é febre suína, não?". Que engraçadinho...
Ah! E a previsão para amanhã é de chuva. Tudo de volta ao normal.

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Esse fim de semana aconteceu o Green Belt Relay (corrida de revezamento durante o sábado e o domingo cobrindo um total de 220 milhas ao redor de Londres). Claro que eu, metida e com um treinamento quase nulo no momento, estava inscrita. No time B, naturalmente (nosso clubinho inscreveu dois times). Minha corrida de sábado seria de manhã, em algum lugar ao norte de Londres, percorrendo 10 milhas. A corrida de domingo seria bem mais fácil, apenas 5.7 milhas. Eu, toda preocupada em não fazer feio (tô correndo mal mesmo ultimamente, sem tempo para treinar direitinho) mas mantendo a pose. Só que como já deu para perceber, tive que desistir e deixar colocarem outra pessoa no meu lugar. É que a garganta resolveu se manifestar com tudo na sexta-feira, trazendo junto a tal tosse de cão moribundo e tuberculoso. Para não deixar assim tão feio, ao menos ajudei no sábado, tirando fotos e sendo motorista de corredores. Conheci uns lugares lindos que eu nem sabia que existiam tão relativamente perto. E domingo caí de cama com tudo!

Recomendações antes da largada em uma das etapas.



Um dos pontos ao norte de Londres


Mais uma largada. Olha só o lugar!

Que tal uma pint ali naquele pub???


A freirinha aí embaixo foi buscar a dela.


Tem um time que sempre participa do Green Belt Relay. São essas "freirinhas" aí em cima. Sempre de óculos escuro e sempre com uma pint na mão. Sim, correm com o vestidinho e o véu (e provavelmente com a pint na mão...). Sempre acabam em último lugar na contagem final e levam para casa o prêmio de consolação: um assento de banheiro!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sob o sol de Porto Alegre

Se antes eu estava sem tempo para escrever aqui porque preparava mil coisas para poder ir passar quase um mês no Brasil, agora continuo sem tempo porque esta vida boa de sol, festerê, estar com a família, rever amigos e passear pela minha cidade natal me toma todo o tempo. É como tomar um banho gostoso de cachoeira, daqueles que revigora a alma, energiza e me põe um sorriso na alma. E eu fico querendo aproveitar cada segundinho...

Quem também está aproveitando bastante é o Rafinha. O sortudo está até treinando futebol com o projeto Genoma do Inter, bem aqui no Parcão. Adorando! Como gosta de futebol esse menino!

Tem feito uns dias lindos de sol, maior calorão e piscina quase todo o dia. Só que boa mãe que eu sou, o pobre do meu filho ficou vermelhão e já até descascou. Agora é protetor solar 30 de hora em hora.

Eu confesso que meu lado dondoca está adorando essa vida boa. Como é bom andar com as unhas lindas e pintadas, os cabelos cuidados, baladas de fim-de-tarde, almoços e jantares pela cidade... tô de férias e no mundinho do faz-de-conta. Oba!

Ah! Uma das primeiras coisas que fiz foi ir conhecer o Nossa Senhora do Ó. Muito legal, aconchegante e simpático. A Mari realmente é muito boa e talentosa porque além do ambiente gostoso, o cardápio é todinho delicioso, de comer de joelhos! Mas essa guria é daquelas com uma baita estrela, seja lá o que ela resolver fazer vai ser sempre um sucesso. E ela merece! Tenho o maior orgulho de ser amiga dessa pessoa linda.

Agora preciso ir tomar o meu sol.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Depilação brasileira

Imagem encontrada aqui.


"Tenta sim. Vai ficar lindo."


Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.


- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

- Vai depilar o quê?

- Virilha.

- Normal ou cavada?


Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.


- Cavada mesmo.

- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?

- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.


- Quer beeem cavada?

- É... é, isso.


Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.


- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.


Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.

- Assim?

- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural. Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.


- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.


- Quer que tire dos lábios?

- Não, eu quero só virilha, bigode não.

- Não, querida, os lábios dela aqui ó.


Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.


- Ah, arranca aí.


Faz isso valer a pena, por favor. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.


- Olha, tá ficando linda essa depilação.

- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.


Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.


- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.


Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?

- Hein?

- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.


- Segura sua bunda aqui?

- Hein?

- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.


Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:


- Tudo bem, Pê?

- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.


Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.


- Vira agora do outro lado.


Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.


- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

- Máquina de quê?!

- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

- Dói?

- Dói nada.

- Tá, passa essa merda...

- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.


- Prontinha. Posso passar um talco?

- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Criar o domínio... http://www.bucetascabeludas.com.br/



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Esse post foi descaradamente por mim roubado do blog CALCINHAS NO BOX. Aparentemente circula via emails e não se sabe quem é o autor. Me fez rir pra caramba porque, convenhamos, não é que é bem assim???


Aqui em Londres também tem Brazilian waxing, inclusive o "full bikini"...