segunda-feira, 18 de março de 2013

Conselho depende do ponto de vida do observador


No último encontro do clube do livro, discutimos a obra 'Washington Square' do autor americano naturalizado britânico Henry James. É um livro curto, de umas duzentas e poucas páginas e originalmente publicado em 1880.

O livro conta a história de Catherine, uma moça doce e devota ao seu pai, um médico viúvo rico e bem sucedido que não vê nada de especial na filha. Ambos moram em Washington Square, Nova Iorque, com uma tia intrometida devota, irmã do pai.

Quando Catherine apaixona-se e resolve se casar, o pai não perde tempo em pesquisar quem é o corajoso que quer casar com sua filha tão sem graça (segundo ele, porque a moça é gente boa). Ele logo conclui que o moço é um interesseiro que está atrás do dinheiro de Catherine e simplesmente decreta que se ela for adiante com o casamento, ele a exclui da herança.

Catherine fica profundamente magoada com o pai que tanto adora e respeita. Não que ela precise da herança, ela tem dinheiro suficiente que herdou da mãe. O que a magoa é a falta de apoio do pai, pois ela tem certeza que se o pai desse uma chance ao moço, veria que ele tem sinceras  intenções.  Catherine tem que escolher entre a herança (respeito ao pai) e o homem que ama.

Não, não vou estragar e contar o que acontece ou como termina o livro. Sim, o enredo soa (e é) bobo e sem graça mas, para minha surpresa, adorei e devorei cada página. Gostei demais da maneira como o autor explora o desenrolar dos relacionamentos.

O que mais me chamou a atenção foi a posição desse pai em relação à filha. Independentemente de ele estar certo ou errado quanto às intenções do pretendente da filha, até que ponto ele deveria ou não deixá-la cometer o que para ele seria um grande erro? Até que ponto se pode ir para tentar impedir que alguém que amamos não cometa o que para nós está na cara que é uma roubada?

O livro explora essa  complicada questão que envolve mil e uma nuances das diferentes personalidades e caráter que são tão bem explorados pelo autor (e o que me prendeu).  Mas e não é assim sempre? Não é sempre tudo muito relativo a quem as pessoas envolvidas são naquele momento, no que elas estão prontas para abrir mão ou no que elas estão conseguindo enxergar ou não?


Lembro de ter lido no facebook o discurso de uma amiga que defendia fervorosamente que conselhos são sempre dados com as melhores intenções, por quem nos ama e nos quer bem e que então (eu jurando que ela fosse dizer "daqui pra frente vou ouvir os conselhos que me dão com mais atenção) era para levarmos os conselhos dela a sério.

Tem aquele velho ditado "se conselho fosse bom não se dava, se vendia!" e a verdade é que todo mundo tem boas intenções ao dar conselhos. Só que conselhos são baseados na própria experiência, visão de mundo e momento de vida de cada um. Todos nós já vimos pessoas queridas fazendo besteiras e escolhas erradas, aprontando a própria cama e ignorando qualquer bom senso e os tais conselhos. E pum! Lá vai a criatura espatifar a cara na parede, bem como prevíamos. As vezes ouvimos um bem que me disseram... Mas também acontece muito de estarmos errados e o que parecia ser uma doideira na verdade acabou sendo uma coisa boa. E tem vezes que, graças aos conselhos que nos deram, acabamos nos saindo bem.

A verdade é que cada um tem a sua história e carrega a sua bagagem. E como li em algum lugar, a gente pode até ter certeza absoluta do que disse, mas o que o outro ouviu nunca se vai saber ao certo.

Talvez o mais importante não seja dar conselhos ou saber recebê-los mas sim poder contar com quem nos ama, respeitar a individualidade e o tempo de cada um, ter uma mão amiga para nos re-erguermos quando caímos um tombo. Porque cair, todo mundo cai, uns mais outros menos, faz parte da arte de viver e aprender.