segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Coincidência

Achei que com internet no café eu teria mais chances de andar pendurada no mundo virtual mas quê! O movimento aumentou e não sobra tempo para mais nada. Eu sei que parece exagero, mas vai ser a cozinheira, a garçonete, a moça do caixa, a gerente, a RP, a administradora, a contadora, a faxineira, a pensadora, a updater do twitter, a criação e arte do que precisar (incluindo menus, plaquinhas, murais, posters, cartão de visita, etc) e nem sei mais o quê. Tudo na mesma pessoa. PQP!

Bom, vamos ao causo. Hoje entrou um casal novo. Ele, um senhor com pose e um quê de nervosinho contido, com a pele bronzeada (eu louca para perguntar onde ele tinha andado e se de férias) e os cabelos grisalhos. Ela, uma senhora bem vestida, com um sorriso largo e falando baixinho. Bem magrinha e com cara de indiana, muito simpática. Eles pediram dois cafés latte, merengue de forno para ele (as coisas que eu invento de pura bobeira e só para não jogar fora as sobras e a clientela me surpreende comprando entusiasmada) e crepe no palito com recheio de queijo para ela. (Explico o crepe no palito numa outra ocasião).

Quando retorno com os pedidos, a senhora me pergunta de onde sou. "Ah!Então ele acertou! Ele viu aquele livro ali na estante e comentou que provavelmente você fosse brasileira." Disse ela referindo-se ao senhor que a acompanhava.

Eu tenho um único livro em português de capa dura, grandão, bem bonita a capa e cheio de fotos muito boas. Chama-se "Brasil Bom de Bola" e em função desse único livro em meio aos outros 200, a maioria dos clientes acerta de cara. Apesar de que esses dias entrou um sujeito me perguntando se eu era turca... e eu nem tinha cobrado o café dele ainda!

Enfim, em seguida, a senhora emendou que a nora era brasileira e ela e o filho moravam no Brasil, numa cidade chamada Porto Alegre. Fiquei tão surpresa e emocionada com a coincidência que emburreci. Queria perguntar mill coisas mas a única coisa que saiu foi "Eu também sou de lá" e "Há quanto tempo o  seu filho mora lá?" Tentei colocar meus neurônios em ordem para poder perguntar coisas mais interessantes e produtivas mas o senhor já estava de pé e parecia louco para se arrancar e eu não quis ficar segurando com conversa. 

Ela disse que voltaria, fez mil elogios ao café. Espero que da próxima vez eu consiga conversar com ela direito.  Não é todo dia que encontro alguém por essas bandas que tem um filho que casou com uma brasileira e foi morar em Porto Alegre. Se fosse em Londres mesmo, lá no centro, não teria ficado tão surpresa. Mas aqui para fora, quase Kent... eu nunca vejo nem brasileiro por aqui! Eu sei que tem porque costumava ter tempo para frequentar restaurantes e tem uns vários onde os garçons são brasileiros. Mas realmente não é como no centro que tem brasileiros por tudo. E ir morar em Porto Alegre! Bem, é que Porto Alegre pode até ser a melhor cidade do mundo, o centro do universo para os orgulhosos porto alegrenses, mas muito pouca gente de fora já se quer ouviu falar na verdade (sim, sim, ignorantes, eu sei!!!) Ai ai...

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Apesar do trequinho aí na direita dizer que estou lendo outra coisa, na verdade estou lendo "Shantaram" do Gregory David Roberts, um australiano. Estou adorando. A história se passa na Índia, para onde o personagem principal (o próprio autor)  foge depois de escapar de uma prisão de segurança máxima na Austrália. Eu estive na Índia por 3 meses e meio e, além do autor ser um escritor excelente, estou adorando revisitar lugares, jeitos e a cultura que vi com meus próprios olhos. O que ele escreve, descreve, interpreta... bah! É uma espécie de testemunha, é como se ele estivesse traduzindo sentimentos, imagens, sons, cheiros, cores, tudo lindamente colocado em palavras.

Tá, tudo bem que eu não morei nas favelas e não me meti com a máfia. Mas fora toda a trama da história, o resto condiz. Ele descreve uma Índia que eu vi. Bem do jeito que eu vi.

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Preciso ir dormir. Boa noite!








sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ando sumida, hein!?

Faz muito tempo que não escrevo nada aqui. Sinto falta mas, desde a inauguração do café/coffee shop/sandwich bar, minha vida mudou tanto! Eu ando trabalhando MUITO. Mas MUITO mesmo. Deve ser alguma espécie de castigo cármico por eu até então ter levado uma vida relativamente tranquila em relação a trabalho.

Sabe o que todo mundo diz, que ter o próprio negócio é muita dor de cabeça, que é dureza e a criatura acaba trabalhando bem mais do que se fosse empregado de alguém? Pois é verdade, agora eu sei por experiência própria. Socorro.

Claro que tem o lado bom. Mas não consigo lembrar de nadinha no momento, então vou ficar devendo essa.

Brincadeira. Mais ou menos.

Para quem ainda não sabe, eu abri uma cafeteria em outubro. Chama-se Alexmoon Café. Fica em Bromley, periferia de Londres. Está aberta de segunda a sexta das 8:30 até 5 da tarde. E nos sábados das 9 as 4. Nos domingos eu tento ressuscitar e recarregar as energias. Bla.

Quando minha cafeteria era apenas um projeto, eu imaginava as pessoas fazendo lanchinhos e saboreando seus cafés tranquilamente enquanto liam um dos meus livros que preenchem as estantes (são mais de 120 livros no momento). Ou lendo o jornal. Ou trabalhando nos seus laptops conectados na internet via my wi fi. Mas não é exatamente o que acontece.

Um que outro cliente me faz feliz assim, fazendo exatamente o que eu visualizava. Por exemplo, tem o Rodrigo Santoro-depois-do-acidente que recentemente, e por duas semanas, veio quase que diariamente almoçar. No primeiro dia ele escolheu um dos livros, pediu um café e um sanduíche e passou um bom tempo imerso na leitura.  E assim foi quase todos os dias por duas semanas. A Rachel, minha escrava parceira na cafeteria, foi quem me alertou (porque ela trabalhava na frente e eu na cozinha) que já era a terceira vez que ele vinha para continuar o livro. Eu fiquei toda entusiasmada e feliz, finalmente a minha idéia serviu para alguém! Faz uma semana que ele terminou a leitura. Achei que ele fosse começar outro livro mas por enquanto nada. Tanto livro bom que ele podia ler... oh well. Quem sabe ele está descansando o cérebro depois da leitura? Espero que ele repita a dose. Foi legal assistir.

Também tenho alguns clientes, geralmente aposentados, que vem ler seus jornais aqui. Tem esse senhor inglês, um velhinho muito doce que sempre vem tomar um cappuccino e comer uma fatia de bolo a tardinha.  Adoro conversar com ele. Ele morou na África, onde as filhas cresceram, e tem tantas histórias fascinantes para contar!

Outro grupo de clientes vem de uma escola há uns 200 metros da cafeteria. São as mães que largam os filhos na escola e vem se encontrar aqui para fofocar umas das outras. Sem querer acabo ouvindo as conversas e oh my, se morderem as próprias línguas morrem envenenadas.

Todas as quarta-feiras um outro grupo de mães reúne-se aqui. São todas mães de bebês de uns 3-4 meses. Isso aqui fica virado num estacionamento de carrinhos/berçário. Uns bebezinhos fofinhos que mamam feito terneirinhos!

Legal que já tenho clientes frequentadores assíduos. E sempre aparece gente nova. Eu recebo vários elogios pelo local. Todo mundo gosta dos cafés e da comida e todos retornam. Isso é bom sinal, não é?

Também descobri que sei cozinhar. Não que eu goste, mas pelo jeito me viro bem porque as pessoas elogiam.

Agora que tenho internet aqui na cafeteria, escrevo mais seguido. Tenho várias coisinhas para contar mas por hoje é isso mesmo.