segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cachorrinhos, cadelinhas e cavalinhos.





Um lindo domingo de sol e eu, cansada de estar enfurnada em casa lendo dormindo e comendo, resolvi levar meu filho e a cadelinha para passear no parque. Fomos de bicicleta, uma meia- horinha pedalando devargazinho (a Daisy é baixinha, tem as perninhas curtas - putz! E não é que dizem que o cachorro é sempre a cara do dono??? - imagina a cadelinha ter que correr atrás das bicicletas, não dá!).


Logo na entrada do parque tem uma colina seriamente íngreme. Claro que o Rafa enlouqueceu, empurrou a bicicleta até o topo e desceu com tudo. Eu, como boa mãe que sou, fechei os olhos apavorada enquanto rezava para o anjo da guarda das crianças. Mas ele desceu direitinho, quer dizer, desceu à milhão mas quase na base, ao invés de se espatifar contra uma árvore, ainda deu uma derrapada calculada e freiou perfeitamente. Repetiu a façanha mais umas cinco vezes. Lá pelas tantas cansou e veio sentar-se ao meu lado. Mas não descansou nem dois minutos e logo pegou a bolinha de tênis e saiu a correr com a Daisy. Atirava a bolinha e competia com a cachorra para pegá-la primeiro.


Nesse meio tempo surgiu um cãozinho número perfeito da Daisy com seu dono. Baixinho, simpático e cheio de energia. Foi amor a primeira vista. Uma galinhagem só. O Rafa continuou brincando com os dois mas logo em seguida eles não estavam mais interessados em bolinha de tênis. O Alfie estava era fazendo o possível para se dar bem. O dono, todo envergonhado me pedia desculpas pelo comportamento do cãozinho. Expliquei que não tinha problema, Daisy era "vacinada". E o Rafa todo contente grita de longe:


-Mãe, olha só que legal! Elas estão brincando de cavalinho!

Não me contive e em meio à risadas concordei com ele, sim, sim, cavalinho...

Também tive que corrigir o Rafa que insistia que Alfie era uma cadelinha. Aquele não era uma cachorra, era um cãozinho, expliquei.

- O quê? Não, é uma cachorra! Insistia ele.

O dono prontamente confirmou que era um cachorro.

-Mas e cadê o pinto dele, então? Pergunta o Rafa.

O que eu podia dizer?

-Ele é peludinho, deve estar escondido.


Sabe o que ele fez? Foi lá fazer carinho na barriga do Alfie para conferir. E lá está o Alfie, deitadinho de barriga para cima, curtindo um cafuné e com o dono ao lado provando a masculinidade do seu meu melhor amigo:

-Viu? É macho!

-Mas esse é o menor pinto que eu já vi num cachorro! Revida a criança.


Não sei se foi coincidência mas logo em seguida Alfie e seu dono resolveram seguir sua caminhada.


terça-feira, 23 de junho de 2009

Macaquinha de auditório

Sábado passado fui assistir Coraline em 3D. Sempre achei 3D a maior bobagem porque nunca tinha funcionado antes mas desta vez aprendi que 3D é muito divertido. Então, lá estou eu numa salinha de cinema com muito mais adultos do que crianças, com aqueles óculos de Clark Kent, um balde de pipoca no colo e as imagens começam a "sair" da tela. Eu, abobada, tentando tocá-las. Sim, mora uma eterna criança dentro de mim, que facilmente fica maravilhada pelas coisas mais inesperadas. E eu admito, assumo e na verdade me divirto horrores com ela.

Mas voltando ao filme, eu há horas que queria muito assistir. O filme é baseado no livro Coraline, de Neil Gaiman, meu autor favorito. Ele escreve fantasia e é capaz de incorporar mundos, situações e personagens incríveis e de maneiras inesperadas em meio às situações mais comuns do cotidiano. Simplesmente jorra material inconsciente da cabeça desse homem.

No caso de Coraline, é para ser uma história de horror para crianças. Coraline é uma menininha que muda-se com seus pais para uma nova casa. Ela quer atenção, quer conversar, quer brincar, mas seus pais estão sempre ocupados com trabalho, sempre em cima de um teclado. Explorando a nova casa, Coraline encontra uma porta que liga à um túnel que ela consegue atravessar engatinhando. Do outro lado, encontra a mesma casa só que com toda a mudança e a decoração já em seus devidos lugares e muito mais bacanas. Nesta casa ela encontra, inclusive, uma versão muito melhorada dos seus próprios pais: eles tem tempo para ela, tudo é muito melhor. Só um pequeno detalhe: no lugar dos olhos, eles têm botões. Sim botões! E aos poucos, Coraline se dá conta que a "outra mãe" que diz amá-la tanto, possui um jeito sinistro de expressar esse amor...

O Rafa já tinha assistido ao filme (sem mim, traidor!) e ele usou a palavra perfeita para descrevê-lo: "creepy". Mas maravilhoso, eu gostei muito.

Voltando a essa criança que habita dentro de mim, ela emergiu com tudo na segunda-feira. Na escola onde eu trabalho, recebemos a visita de um autor de livros. Ele veio para contar às crianças sobre seus livros, que nesse caso, são sobre animais. O nome dele é Michael Leach, é fotógrafo e já escreveu trocentos livros traduzidos nos mais variados idiomas sobre as mais variadas espécies de animais. Ele trouxe exemplares dos livros, fotografias e nos contou muitas histórias interessantíssimas sobre cada uma das fotografias que ele nos mostrou. Eu, já virada numa macaca de auditório, estava empolgadíssima. Aprendi umas coisinhas novas: lobos não atacam seres humanos. Nunca se ouviu falar em lobos comerem gente, isso só acontece na história da Chapeuzinho Vermelho. O mesmo vale para gorilas, que são criaturas delicadas e sociáveis e que morrem de medo do bicho homem. Já chimpanzés podem vir a ser cruéis e canibalísticos. Segundo Leach, mil vezes ser atacado por um leopardo do que um chimpanzé. Os chimpanzés são o "homem do saco" dos gorilinhas: eles roubam os gorilinhas e os comem! Ele também contou que quando esteve na Antártica, os penguins tinham essa mania de se acomodar em cima dos seus pés, colados nas pernas dele para se aquecerem. Também nos contou em detalhes seu encontro e convivência com gorilas e nos forneceu instruções detalhadas de como se comportar na eventualidade de algum dia nos depararmos com um. Simplesmente histórias fascinates, daquelas que gente como eu só vê pela televisão em documentários da National Geographic. E o cara ao vivo, na nossa frente, nos contando como e onde vai buscar o material para seus livros... Ah! E apesar das crianças serem novinhas (de 3 a 6 anos), elas estavam fascinadas, só não mais do que eu.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

As surpresas da vida

Quando menos se espera a vida se encarrega de surpreender das maneiras mais inusitadas, inesperadas e inimagináveis. E o que a vida traz pode ser tanto bom como ruim, pode ser uma catástrofe ou uma benção, uma alegria ou uma tristeza. O sujeito pode estar feliz da vida, tudo andando bem e tudo pode acontecer. Às vezes as surpresas podem ser bem ruins e tristes. Às vezes as surpresas parecem desagradáveis à princípio mas, mais tarde, revelam-se bençãos. E às vezes são pura e simplesmente surpresas mais que boas e bem-vindas.

Pois a minha surpresa mais recente foi dessas ultimas, as super boas. Nos últimos dias tive a honra de receber aqui em casa uma pessoa que eu admiro, gosto, amo muito e que tem a minha gratidão eterna por ter segurado a minha mão tantas vezes. Ela mora no meu coração e eu sei que tem um lugarzinho no coração dela que é meu. Daquelas pessoas que são amigas de verdade, onde o tempo e a distância não existem na relação. A não ser para dar saudades, é claro.

Então cá estou eu, com a minha tosse super chiquérrima de assustar até defunto, quando toca o telefone e eu fico sabendo que ela está chegando com o filho de 13 anos e em menos de 48 horas. Pronto, felicidade total com um misto de me belisca que eu estou sonhando. Tá acontecendo mesmo??? Revolução na casa, arruma aqui e ali, dá jeito de criar espaço porque nem que eu tiver que dar o meu quarto e armar uma barraca no pátio mas eu tenho que dar um jeito. Ela é importante assim para mim. Mas não precisei armar a barraca e acomodei todos nós. E deixa eu aproveitar para dizer que meu marido é um santo, faz tudo o que eu digo, e até mais, e todo contente (não vai pensando que eu não enxergo!).

Tudo pronto e beleza. Deu tudo super certo e foram uns 5 dias super legais mesmo. Fora que só fez sol e tempo bom, muito raro por aqui. Eu não podia ter ganhado um presentão melhor. Surpresa muito boa mesmo. E o que é esse filhote dela de tão querido??? Como diz a minha mãe, o fruto não cai longe do pé. Ou como a minha amiga mesmo diz, não é filho da macega. Um guri gente muito boa mesmo, educadíssimo, de uma baita sensibilidade, bom de estar junto. E lindo! Sim, dá até pena das guriazinhas; vai dar uma trabalhareira!

E, um belo dia, nem sei bem qual foi a pergunta, e o guri me chama de tia Ale. Veja bem, tia! Enquanto eu calma e solicitamente respondia à indagação com um sorriso de gato Cheshire estampado no rosto, a ficha ía caindo em câmera lenta – um adolescente de 13 anos e muito mais alto que eu (tá, qualquer anão é mais alto do que eu, mas ele é alto de verdade ) me chamando de tia Ale...

...claro que mil sentimentos e recordações fizeram pop-up no meu cérebro. Quando eu e minha irmã éramos pequenas (engraçado isso que sempre que lembro de mim criança tem a minha irmã "tagged along". Engraçado mas bem compreensível, afinal éramos inseparáveis – mesmo quando de mal - e temos menos de 2 anos de diferença de idade), nossos pais tinham lá seus amigos, aquele grupinho que faz quase tudo junto, todo mundo se vê com certa frequência um na casa do outro, em aniversários dos filhos, jantares, churrascos, etc. Todos eram casados e tinham filhos mais novos que eu e minha irmã. E praticamente nos viram nascer e por questões culturais nos referíamos a esses amigos dos nossos pais como tio e tia ("o tio João e a tia Maria"). Todo mundo era tio e tia. Como todas as crianças, tínhamos nossas percepções destes adultos "tios". Por exemplo, tinha uma certa "tia" que não íamos muito com a cara porque ela aparecia nas nossas festas de aniversário sem nenhum presente. Até aí tudo bem (apesar de que qual é a criança que não espera um presentinho no seu aniversário???). O problema é que ela logo vinha desculpando-se e perguntando o que queríamos e que então iria entregar o presente outro dia. Ela aplicava esse truque todos os anos!!! Só que nada de presente. Melhor ter ficado calada. E olha que não pedíamos um pônei ou uma bicicleta, era simplesmente o LP das Frenéticas ou da Turma do Balão Mágico. Nada demais. Também não gostava de ir na casa dela, era sempre bagunçada. E ela era impacinete com os filhos. Mas eventualmente desapareceu das nossas vidas e não fez falta. Tinha uma outra "tia" que gostávamos muito. Essa só dava presente bom e legal e falava conosco com interesse pelo que tínhamos a dizer. Essa continua nas nossas vidas, ainda bem, e ela nunca nos decepcionou, muito pelo contrário, nós gostamos dela cada vez mais. A última "tia" da minha lista (já me estendi demais) eu achava divertidíssima, gostava mesmo. Depois passei anos sem vê-la e por essas coisas da vida, ela reapareceu na minha vida. A bocó aqui ficou super entusiasmada e emocionada, todo aquele carinho de criança transbordando, meu coração ali numa bandeja e só me dei conta que ela era uma falsaloucaduascaras tarde demais. Fiquei super decepcionada, me senti traída! Ela me viu nascer!!! Mulher ruim!

Toda essa lenga-lenga sobre "tias" só para tentar explicar a ficha caindo quando o meu guest de 13 anos me chamou de tia Ale. Primeiro foi o choque porque só criancinhas pequeninas já me chamaram de "tia". Entre elas meu sobrinho que mesmo que fosse mais velho do que eu teria esse direito (mas não é o caso). Também aqui onde eu moro não faz parte da cultura as crianças chamarem as pessoas de "tio" ou "tia". E, por algumas frações de segundo na minha cabeça, aquele garotão ali me chamando de "tia Ale" não estava correspondendo ao cenário criancinhas me chamando de "tia". Mas logo em seguida vem o seguinte raciocínio, ele não é um adulto ainda e se está me chamando de "tia" é porque eu sou um adulto aos olhos dele (ponto para mim, isso é bom porque afinal eu sou um adulto. Ao menos cronologicamente). Próximo raciocínio: se ele está me chamando de "tia Ale" é também porque eu sou amiga da mãe dele, e isso além de ser algo especial é dar-se conta de que eu sou parte daquele nicho ali. Concluindo, no que a ficha caiu, senti duas coisas importantes: 1 – que legal eu ser a "tia Ale" dele por todas essas coisas legais que isso representa e 2 – eu prometo que vou ser sempre a "tia Ale" que tu levaste daqui, eu sou isso aqui e nunca vou te decepcionar, tá bom?! Podes sempre contar comigo. Que bom ter mais um "sobrinho" (sobrinho é sempre meio filho...), principalmente um assim tão interessante e legal como tu.

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PS. Obrigada ao meus guests amados pelos dias maravilhosos, o carinho e a companhia. E pela inspiração. Amo vocês.