Quando menos se espera a vida se encarrega de surpreender das maneiras mais inusitadas, inesperadas e inimagináveis. E o que a vida traz pode ser tanto bom como ruim, pode ser uma catástrofe ou uma benção, uma alegria ou uma tristeza. O sujeito pode estar feliz da vida, tudo andando bem e tudo pode acontecer. Às vezes as surpresas podem ser bem ruins e tristes. Às vezes as surpresas parecem desagradáveis à princípio mas, mais tarde, revelam-se bençãos. E às vezes são pura e simplesmente surpresas mais que boas e bem-vindas.
Pois a minha surpresa mais recente foi dessas ultimas, as super boas. Nos últimos dias tive a honra de receber aqui em casa uma pessoa que eu admiro, gosto, amo muito e que tem a minha gratidão eterna por ter segurado a minha mão tantas vezes. Ela mora no meu coração e eu sei que tem um lugarzinho no coração dela que é meu. Daquelas pessoas que são amigas de verdade, onde o tempo e a distância não existem na relação. A não ser para dar saudades, é claro.
Então cá estou eu, com a minha tosse super chiquérrima de assustar até defunto, quando toca o telefone e eu fico sabendo que ela está chegando com o filho de 13 anos e em menos de 48 horas. Pronto, felicidade total com um misto de me belisca que eu estou sonhando. Tá acontecendo mesmo??? Revolução na casa, arruma aqui e ali, dá jeito de criar espaço porque nem que eu tiver que dar o meu quarto e armar uma barraca no pátio mas eu tenho que dar um jeito. Ela é importante assim para mim. Mas não precisei armar a barraca e acomodei todos nós. E deixa eu aproveitar para dizer que meu marido é um santo, faz tudo o que eu digo, e até mais, e todo contente (não vai pensando que eu não enxergo!).
Tudo pronto e beleza. Deu tudo super certo e foram uns 5 dias super legais mesmo. Fora que só fez sol e tempo bom, muito raro por aqui. Eu não podia ter ganhado um presentão melhor. Surpresa muito boa mesmo. E o que é esse filhote dela de tão querido??? Como diz a minha mãe, o fruto não cai longe do pé. Ou como a minha amiga mesmo diz, não é filho da macega. Um guri gente muito boa mesmo, educadíssimo, de uma baita sensibilidade, bom de estar junto. E lindo! Sim, dá até pena das guriazinhas; vai dar uma trabalhareira!
E, um belo dia, nem sei bem qual foi a pergunta, e o guri me chama de tia Ale. Veja bem, tia! Enquanto eu calma e solicitamente respondia à indagação com um sorriso de gato Cheshire estampado no rosto, a ficha ía caindo em câmera lenta – um adolescente de 13 anos e muito mais alto que eu (tá, qualquer anão é mais alto do que eu, mas ele é alto de verdade ) me chamando de tia Ale...
...claro que mil sentimentos e recordações fizeram pop-up no meu cérebro. Quando eu e minha irmã éramos pequenas (engraçado isso que sempre que lembro de mim criança tem a minha irmã "tagged along". Engraçado mas bem compreensível, afinal éramos inseparáveis – mesmo quando de mal - e temos menos de 2 anos de diferença de idade), nossos pais tinham lá seus amigos, aquele grupinho que faz quase tudo junto, todo mundo se vê com certa frequência um na casa do outro, em aniversários dos filhos, jantares, churrascos, etc. Todos eram casados e tinham filhos mais novos que eu e minha irmã. E praticamente nos viram nascer e por questões culturais nos referíamos a esses amigos dos nossos pais como tio e tia ("o tio João e a tia Maria"). Todo mundo era tio e tia. Como todas as crianças, tínhamos nossas percepções destes adultos "tios". Por exemplo, tinha uma certa "tia" que não íamos muito com a cara porque ela aparecia nas nossas festas de aniversário sem nenhum presente. Até aí tudo bem (apesar de que qual é a criança que não espera um presentinho no seu aniversário???). O problema é que ela logo vinha desculpando-se e perguntando o que queríamos e que então iria entregar o presente outro dia. Ela aplicava esse truque todos os anos!!! Só que nada de presente. Melhor ter ficado calada. E olha que não pedíamos um pônei ou uma bicicleta, era simplesmente o LP das Frenéticas ou da Turma do Balão Mágico. Nada demais. Também não gostava de ir na casa dela, era sempre bagunçada. E ela era impacinete com os filhos. Mas eventualmente desapareceu das nossas vidas e não fez falta. Tinha uma outra "tia" que gostávamos muito. Essa só dava presente bom e legal e falava conosco com interesse pelo que tínhamos a dizer. Essa continua nas nossas vidas, ainda bem, e ela nunca nos decepcionou, muito pelo contrário, nós gostamos dela cada vez mais. A última "tia" da minha lista (já me estendi demais) eu achava divertidíssima, gostava mesmo. Depois passei anos sem vê-la e por essas coisas da vida, ela reapareceu na minha vida. A bocó aqui ficou super entusiasmada e emocionada, todo aquele carinho de criança transbordando, meu coração ali numa bandeja e só me dei conta que ela era uma falsaloucaduascaras tarde demais. Fiquei super decepcionada, me senti traída! Ela me viu nascer!!! Mulher ruim!
Toda essa lenga-lenga sobre "tias" só para tentar explicar a ficha caindo quando o meu guest de 13 anos me chamou de tia Ale. Primeiro foi o choque porque só criancinhas pequeninas já me chamaram de "tia". Entre elas meu sobrinho que mesmo que fosse mais velho do que eu teria esse direito (mas não é o caso). Também aqui onde eu moro não faz parte da cultura as crianças chamarem as pessoas de "tio" ou "tia". E, por algumas frações de segundo na minha cabeça, aquele garotão ali me chamando de "tia Ale" não estava correspondendo ao cenário criancinhas me chamando de "tia". Mas logo em seguida vem o seguinte raciocínio, ele não é um adulto ainda e se está me chamando de "tia" é porque eu sou um adulto aos olhos dele (ponto para mim, isso é bom porque afinal eu sou um adulto. Ao menos cronologicamente). Próximo raciocínio: se ele está me chamando de "tia Ale" é também porque eu sou amiga da mãe dele, e isso além de ser algo especial é dar-se conta de que eu sou parte daquele nicho ali. Concluindo, no que a ficha caiu, senti duas coisas importantes: 1 – que legal eu ser a "tia Ale" dele por todas essas coisas legais que isso representa e 2 – eu prometo que vou ser sempre a "tia Ale" que tu levaste daqui, eu sou isso aqui e nunca vou te decepcionar, tá bom?! Podes sempre contar comigo. Que bom ter mais um "sobrinho" (sobrinho é sempre meio filho...), principalmente um assim tão interessante e legal como tu.
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PS. Obrigada ao meus guests amados pelos dias maravilhosos, o carinho e a companhia. E pela inspiração. Amo vocês.