No último encontro do clube do livro, discutimos a obra
'Washington Square' do autor americano naturalizado britânico Henry James. É um livro curto, de umas duzentas e
poucas páginas e originalmente publicado em
1880.
O livro conta a história de Catherine, uma moça doce e devota ao seu pai, um médico viúvo rico e bem sucedido que não vê nada de especial na filha. Ambos
moram em Washington Square, Nova Iorque, com uma tia intrometida devota, irmã do pai.
Quando Catherine apaixona-se e resolve se casar, o pai não perde tempo em pesquisar quem é o
corajoso que quer casar com sua filha tão sem graça (segundo ele, porque a moça é gente boa). Ele logo conclui que o moço é um interesseiro que está atrás do dinheiro de Catherine e simplesmente decreta que se ela for adiante com o casamento, ele a exclui da herança.
Catherine fica profundamente magoada com o pai que tanto
adora e respeita. Não que ela
precise da herança, ela tem dinheiro suficiente que
herdou da mãe. O que a magoa é a falta de apoio do pai, pois ela tem certeza que se o
pai desse uma chance ao moço, veria que ele tem sinceras intenções. Catherine tem que escolher entre a herança (respeito ao pai) e o homem que ama.
Não, não vou estragar e contar o que acontece
ou como termina o livro. Sim, o enredo soa (e é) bobo e sem graça mas, para minha surpresa, adorei e devorei cada página. Gostei demais da maneira como o
autor explora o desenrolar dos relacionamentos.
O que mais me chamou a atenção foi a posição desse pai em relação à filha. Independentemente de ele estar certo ou errado
quanto às intenções do pretendente da filha, até que ponto ele deveria ou não deixá-la cometer o que para ele seria um grande erro? Até que ponto se pode ir para tentar
impedir que alguém que amamos não cometa o que para nós está na cara que é uma roubada?
O livro explora essa
complicada questão que
envolve mil e uma nuances das diferentes personalidades e caráter que são tão bem explorados pelo autor (e o que me prendeu). Mas e não é assim sempre? Não é sempre tudo muito relativo a quem as pessoas envolvidas
são naquele momento, no que elas estão prontas para abrir mão ou no que elas estão conseguindo enxergar ou não?
Lembro de ter lido no facebook o discurso de uma amiga que defendia
fervorosamente que conselhos são sempre dados com as melhores intenções, por quem nos ama e nos quer bem e que então (eu jurando que ela fosse dizer
"daqui pra frente vou ouvir os conselhos que me dão com mais atenção) era para levarmos os conselhos dela a sério.
Tem aquele velho ditado "se conselho fosse bom não se dava, se vendia!" e a
verdade é que todo mundo tem boas intenções ao dar
conselhos. Só que conselhos são baseados na própria experiência, visão de mundo e momento de vida de cada um. Todos nós já vimos
pessoas queridas fazendo besteiras e escolhas erradas, aprontando a própria cama e
ignorando qualquer bom senso e os tais conselhos. E pum! Lá vai a
criatura espatifar a cara na parede, bem como prevíamos. As vezes ouvimos um “bem que me disseram...” Mas também acontece muito de estarmos errados e o que parecia
ser uma doideira na verdade acabou sendo uma coisa boa. E tem vezes que, graças aos
conselhos que nos deram, acabamos nos saindo bem.
A verdade é que cada um tem a sua história e carrega a sua bagagem. E como li em algum lugar,
a gente pode até ter certeza absoluta do que disse, mas o que o outro ouviu nunca se vai
saber ao certo.
Talvez o mais importante não seja dar conselhos ou saber recebê-los mas sim
poder contar com quem nos ama, respeitar a individualidade e o tempo de cada
um, ter uma mão amiga para
nos re-erguermos quando caímos um tombo. Porque cair, todo mundo cai, uns mais outros menos, faz parte da arte de viver e aprender.
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