quarta-feira, 1 de maio de 2013

Relato da Maratona de Paris - 7 de abril 2013


Fui para Paris de Eurostar com outras 19 pessoas do meu clube de corrida. Enquanto 9 correram a maratona, as outras  11 foram como torcida de apoio. É bacana você ouvir os amigos gritando o seu nome e encororajando ao longo do percurso, principalmente quando tudo o que se quer é desistir, que a tortura termine de uma vez.


Sexta-feira - 5 de abril

Chegamos em Paris no meio da tarde e fomos direto ao hotel. O hotel era bem bonzinho, tudo limpinho e bem localizado. Depois de fazer check in e largar as bagagens fomos até o centro de exposição da maratona para entregar o exame médico, pegar os números e a sacolinha dos brindezinhos bestas e dar um olhada na exposição.



A noite, tínhamos reserva numa brasserie perto do hotel. Fazendo parte de um grupo de 20 pessoas, todos corredores onde 9 iriam correr uma maratona no domingo, você teria certeza que vinho e cerveja estariam fora dos pedidos, não? Ha! Tudo começa com "só um cálice" aqui, "só uma cervejinha, afinal, estamos em Paris" ali e pimba! Somos os últimos a deixar o restaurante, alegres e contentes e com o cérebro nadando em vinho e cerveja.


Sábado - 6 de abril

No dia seguinte... um grupo de corredores perambulando por Paris, sendo uns com mais e outros com menos ressaca. O dia estava lindo e só porque passamos bem em frente, resolvemos dar uma paradinha no Les Deux Magots, o tal café que Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir costumavam frequentar. Sempre tinha ouvido falar que garçon francês é super grosseiro e estava convicta que era difamação pois em todas as vezes que estive na França nunca tinha sofrido nas mãos de nenhum garçon mal educado. Tolinha, fui finalmente batizada no café Les Deux Magots. Pensei que o garçon fosse nos bater quando pedimos uma mesa. Juro que me deu medo. Deu também uma vontade malvada de dar uma de inglesa e pedir água da torneira, mesmo que não fosse beber. Mas acabei pedindo uma diet coke quase debaixo da mesa de tão encolhida. Por sinal, foi a diet coke mais cara que paguei na vida, 7 euros e 30 centavos por uma garrafinha! Não, não vi nada demais no Les Deux Margots. 




Atravessamos o rio Sena, continuamos perambulando e não pude resistir, tive que comer um crepe de nutella com banana. Como eu gosto de crepe em Paris!

A noite conseguimos encontrar um restaurante italiano onde fomos cedinho nos entupir com mais carboidratos - sem álcool para mim dessa vez - e retornamos ao hotel, afinal, amanhã seria o grande dia.




Domingo - 7 de abril - Maratona

Acordamos cedinho e depois do café da manhã pegamos o metrô lotadinho com outros tantos corredores que também se dirigiam ao Arco do Triunfo, onde era a largada ( e final ) da maratona. Um mundaréo de gente.



Um dia lindo de sol apesar de estar ainda friozinho por ser muito cedo. Filas imensas para os cubículos espalhados pela área. Tive que encarar a fila porque a minha bexiga sempre resolve se fazer presente antes de uma corrida, muito chata. Uma eternidade depois, finalmente chegou a minha vez. Não sei da onde o corpo consegue produzir tanto xixi.

Me dirigi para a largada que aconteceu na hora prevista mas era tanta, mas tanta, mas tanta gente que cruzei o ponto de partida uma hora depois. Sim, eu estava lá no fundão, não vejo porque me meter lá na frente quando corro a lá pangaré e principalmente quando tem chip para controlar o tempo do ponto de partida ao ponto de chegada.



E adivinha quem resolveu dar o ar da sua graça logo na saída? A chata da bexiga! Adivinha se agora haviam cubículos espalhados? Claro que não. Vi um montão de corredores fazendo xixi nas esquinas. Homens, claro. O processo é bem mais complicado para nós mulheres e uma mera esquina não é o suficiente. Comecei um mantra mental “isso é emocional, tu não precisa fazer xixi, já descarregou um galão há pouco tempo, segue”. Mas a chata da vontade era insistente, não me largava.
Menos de 10 quilômetros depois e estávamos passando por um parque. As moitas estavam ressecadas e não tinha como se esconder totalmente mas não pude evitar. Me enfiei na melhor moita que eu encontrei (um bando de corredores fazendo a mesmíssima coisa) abaxei as calças e fechei os olhos. Se eu não posso ver os outros, os outros não podem me ver também. Então, protegida por uma semi moita ressecada, com meu amplo bundão de fora, de olhos fechados e rezando para ninguém chegar muito perto, descarreguei 2 galões de xixi.

De volta ao percurso, me senti aliviada e mais leve. Retornei ao meu trotezinho, tudo o que eu queria era completar a maratona.

A cada 5 quilômetros nos ofereciam água, laranja, banana, cubinhos de açúcar e uvas passas. Eu me atracava nos gomos de laranja. Meu corpo pede laranja quando eu corro, eu adoro corrida que oferece gomos de laranja. Só por isso eu resolvi que a maratona de Paris era a melhor do mundo.

Tudo foi indo muito bem, meu passo era consistente, me sentia ok. Nem me lembro em que altura passei pelos nossos torcedores que foram uns fofos gritando meu nome. Teve um, o Richard que saiu correndo atrás de mim e até tascou um beijo! E eu me sentia bem!!! Só que essa foi a minha terceira maratona, eu sei que de repente tudo muda. Foi lá pelo quilômetro 30 que eu comecei a sofrer. O corpo dói, as pernas dóem, tudo dói. Aí tem que ficar o tempo todo mandando embora aquela vozinha maquiavélica que tenta te convencer que tu não vai conseguir e que tá tudo errado. Tem que ficar se convencendo que vai dar sim, que é apenas mais 1 hora e poucos, já correu tudo isso, corre mais um pouco e etc, etc, etc.

Eu pensava no Rafa. Já pensou a cara de decepção se a mãe dele não completa a maratona, não leva uma medalha pra casa? Não, eu tinha que seguir em frente nem que tivesse que me arrastar. Lá pelo quilômetro 33 eu não conseguia mais correr. Mal caminhar. Me sentia a moura torta. Um brucutu destemido. Sério. “Caminhei” por 5 quilômetros. Não vi nada, não vi paisagem, nem tirei foto. Até meus dedos doíam! Eu só conseguia olhar para o chão já que levantar o pescoço doía também. No quilômetro 38 voltei a “correr”. Faltava muito pouco agora.
42.16 quilômetros depois e cruzo a linha de chegada. Que alívio! E não fui a última, não. Uma enxurrada atrás de mim.

De volta ao hotel, tomei um longo banho e, enquanto meus amigos faziam happy hour, fui dormir. Corridas sempre me dão vontade de dormir depois.
Nos encontramos no mesmo restaurante da sexta-feira para jantar. Comi um filezão maravilhoso e bem ensanguentado com batatas sautée. Divino. Entre uma garfada e outra, planejávamos onde seria a próxima maratona.





Segunda-feira – 8 de abril

Hora de voltar pra casa. Pernas doloridas da corrida e gargantas roucas da torcida. Chegamos em Londres às 3 da tarde.

Dei minha medalha para o Rafa.

Adorei a maratona de Paris. Não é tão alegre e festiva como a de Londres, mas bem legal. Eu sou um zero a esquerda como corredora mas sei lá porque tenho essa fixação com maratonas. Ano que vem quero correr outra. 

3 comentários:

Liziane Alves Dotto e casada, Castro disse...

Ale adorei, é bom ter a noção que as mães pensam, mesmo, na opinião dos filhos, principalmente na luta para mostrar que é possível!!!

João Emílio disse...

Parabéns pelo blog! E também pela sinceridade, ao contar detalhes de uma maratona que passam desapercebidos por muitos! Estou me preparando para a minha primeira e talvez seja em Paris! Obrigado e sucesso!

Ale B disse...

Obrigada, João Emílio. Bem que eu queria estar correndo/treinando com mais assiduidade...
Eu acho que conseguir se preparar para uma maratona já é uma grande façanha porque exige tempo e dedicação por meses.
Quando decidires onde for a tua maratona, me diz. E conta como foi?
Bom treino e boa sorte!